Irmão Celso, Marianita Ortaça e Pajé Floriano representam fé, cultura e ancestralidade nas celebrações missioneiras

Foto: Vitor Rosa/Secom
O governo do Rio Grande do Sul lançou oficialmente, no dia 18 de junho de 2025, o calendário preparatório das celebrações dos 400 anos das Missões Jesuíticas Guaranis, que ocorrerão ao longo de 2026. O ato de lançamento, realizado no Palácio Piratini, em Porto Alegre, representa um marco na valorização de um dos episódios fundadores da história do Rio Grande do Sul e da América do Sul: o processo de formação das reduções jesuítico-guaranis no século XVII, a partir da chegada dos padres da Companhia de Jesus e da organização comunitária dos povos indígenas guaranis.
As Missões Jesuíticas foram estabelecidas no atual território gaúcho a partir de 1626, com a fundação da redução de São Nicolau, às margens do Rio Uruguai. Ao longo das décadas seguintes, outras reduções foram criadas, formando o conjunto conhecido como Sete Povos das Missões: São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga, São Francisco de Borja e Santo Ângelo Custódio. Essas comunidades indígenas organizadas sob orientação dos missionários jesuítas integravam um modelo de sociedade baseada na coletividade, educação, produção agrícola e religiosa, que se tornaria referência no contexto colonial.
No evento de lançamento, o governo estadual apresentou os três embaixadores simbólicos das comemorações: o irmão jesuíta Celso João Schneider, representando a tradição religiosa da Companhia de Jesus; a artista e psicóloga Marianita Ortaça, representando a cultura missioneira; e o pajé Floriano, liderança espiritual guarani, indicado para representar as comunidades indígenas envolvidas na construção histórica e simbólica das Missões.
O irmão Celso destacou que a celebração dos 400 anos é uma oportunidade para relembrar o legado dos mártires das Missões – padres Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e João de Castilho – e para refletir sobre o significado da experiência comunitária e espiritual construída nas reduções. Segundo ele, mais do que valorizar os monumentos históricos, como as ruínas tombadas pela Unesco, é necessário retomar os valores sociais e espirituais que marcaram esse período. O religioso também mencionou que os jesuítas continuam atuando na região, com presença nas paróquias de Caibaté e São Miguel das Missões e no Santuário do Caaró, local onde foram mortos os mártires e onde hoje se concentram romarias e práticas devocionais.
A embaixadora da cultura missioneira, Marianita Ortaça, ressaltou a importância das ações de valorização da identidade missioneira como forma de promover não apenas a preservação da memória histórica, mas também o estímulo ao turismo cultural, à economia criativa e ao fortalecimento das expressões artísticas locais. Ela destacou o papel da música nativista de raiz missioneira como instrumento de valorização territorial e afirmou que sua atuação como embaixadora busca dar visibilidade à cultura das Missões nas novas gerações, especialmente por meio de projetos educativos e artísticos. A artista também abordou a importância de reconhecer a contribuição das mulheres na história missioneira, destacando que, embora historicamente pouco visibilizadas, as mulheres sempre estiveram presentes no processo civilizatório e cultural da região.
A criação da comissão estadual para as celebrações dos 400 anos das Missões e a nomeação dos embaixadores integram uma ampla articulação envolvendo o governo do Estado, as dioceses da região missioneira, lideranças indígenas, pesquisadores, gestores culturais e municípios ligados ao patrimônio das reduções jesuíticas. A expectativa é de que, ao longo de 2026, uma série de ações sejam realizadas em todas as cidades missioneiras, incluindo romarias, trilhas históricas, apresentações artísticas, seminários e investimentos em infraestrutura turística e preservação patrimonial.
O decreto estadual nº 57.436, publicado em dezembro de 2023, instituiu o ano de 2026 como o “Ano dos 400 Anos das Missões Jesuítico-Guaranis” no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. A medida visa reconhecer oficialmente a importância desse ciclo histórico, que antecede inclusive a própria constituição do Estado, e que representa um dos capítulos mais significativos da historia dos povos no rio grande do sul.
Fonte: Rádio São Luiz