Arqueóloga Raquel Machado Rech e os avanços em missões jesuíticas Santo Ângelo, RS,
Por Dalmir Ledur,15 de junho de 2025 –
A historiadora e arqueóloga Raquel Machado Rech tem se destacado por seus estudos e ações voltadas à arqueologia missioneira no Rio Grande do Sul. Com formação em História pela UFRGS (1996) mestrado em História com área de concentração em Arqueologia pela PUCRS (1998), “doutorado sanduíche” junto à Tel Aviv University (2001) e doutorado em Arqueologia pela USP (2003).
Em Santo Ângelo, Rech desenvolveu importantes projetos relacionados à identificação da antiga Redução de Santo Ângelo Custódio, primeiramente num convênio entre a Prefeitura de Santo Ângelo e a URI por ocasião das celebrações dos 300 anos daquela redução, e depois como arqueóloga municipal desenvolvendo um amplo projeto contínuo de pesquisas arqueológicas no centro histórico da cidade. Recorreu também a uma parceria com o então o então Laboratório MODELAGE da UFRGS para o uso de georadar para mapear estruturas escondidas sob o solo urbano sendo que em 2008, sendo que esta parceria surtiu na publicação de um artigo intitulado “Investigação Geofísica com Georadar nas Pesquisas Arqueológicas da Redução Jesuítica de Santo Ângelo Custódio, RS” apresentando resultados promissores, apontando com precisão vestígios das fundações jesuíticas enterradas. Rech deixou como legado em Santo Ângelo a implantação do “Museu a Céu Aberto da Redução Jesuítica de Santo Ângelo Custódio” (2007), a criação do NArq - Núcleo de Arqueologia do Museu Municipal de Santo Ângelo (2008), além de coorganizar a Cartilha Digital “Jornadas de Arqueologia Missioneira” (2015), valorizando a educação patrimonial por meio de guias acessíveis à comunidade regional.
Novas descobertas em sítios urbanos
Após assumir outros percursos como arqueóloga do quadro técnico da Superintendência do IPHAN-RS em caráter temporário (2015-2019), voltou a atuar na Arqueologia de Campo assumindo pesquisas de grande porte como o monitoramento arqueológico das obras de remodelação da Praça da Matriz em Porto Alegre (2020-2022) onde coorganizou um Portfólio de Extroversão Educacional sobre a Arqueologia da Praça da Matriz de Porto Alegre, com destaque para a remodelação de diversos achados em modelagem 3D numa parceria com a Combinatividade e a ERGANE Arqueologia Educacional para o Ensino, sendo dado grande destaque para a reconstituição tridimensional para um raro cachimbo afro-brasileiro dentre várias outras descobertas naquelas escavações.
Retorno às missões
A partir de 2022 Rech retorna seu foco para pesquisas arqueológicas na região das Missões e tem se dedicado à pesquisas em diferentes municípios como em São Nicolau, onde assumiu o monitoramento arqueológico das obras de recuperação do Sobrado Silva, além de diversas outras pesquisas para a implantação de diferentes empreendimentos que passam por etapas de licenciamento ambiental por parte do IPHAN, como inspeções em lotes urbanos nos municípios missioneiros de São Luiz Gonzaga, São Borja, São Nicolau e São Miguel das Missões, onde realizou as inspeções arqueológicas para a implantação de um parque aquático e de um observatório astronômico, por exemplo. Além de também dedicar-se a roteiros de visitas técnicas a sítios arqueológicos nas missões.
Após passar num concurso público no ano de 2024 assume como arqueóloga do município de São Luiz Gonzaga, passando a ser a responsável pelo MARQ - Museu Arqueológico da cidade, e passando a coordenar também um novo projeto geral na área do centro histórico da cidade realizando junto com sua equipe as inspeções necessárias para o resgate de vestígios em subsolo da antiga redução de “San Luis“ cujos remanescentes encontram-se no subsolo da moderna cidade de São Luiz Gonzaga. Estas inspeções são necessárias para que o IPHAN emita a anuência para a execução de novas obras ou reformas em lotes urbanos sobre a área do sítio que abrange 12 quarteirões no centro da cidade.
Essas pesquisas, além de evidenciaram diferentes padrões de ocupação nos espaços ocupados por padres e indígenas missioneiros, como diferentes técnicas construtivas e a ausência de pisos cerâmicos nas casas indígenas, indicando possíveis disparidades sociais ou preservação de tradições culturais, como demonstrado numa recente descoberta de uma “Camuchí Caguabá“ (tigela de beber Guaraní) que nos faz compreender melhor como era a vida quotidiana daquela população – permitindo ser construído notável avanço interpretativo como decorrer das investigações.
Graças ao trabalho de pesquisadores como a Dra. Raquel Rech — que junto com sua equipe alia técnicas tradicionais de escavação, e busca novas parcerias para a utilização de geotecnias geofísicas, além de disseminar as pesquisas com atividades de extroversão e educação patrimonial — e às recentes escavações em missões gaúchas, a arqueologia missioneira no Sul do Brasil caminha para uma fase mais integrada, sensível à estratificação social histórica e às trocas culturais entre povos indígenas e colonizadores.
Fotos. Fernando Gomes
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