É comum ataque de onça no Brasil? Saiba como evitar
A morte do caseiro Jorge Ávalos, de 60 anos, devorado por uma onça-pintada em Mato Grosso do Sul reacendeu o debate acerca da relação homem e animais selvagens. A fatalidade é considerada um ponto fora da curva. Conforme o Instituto Chico Mendes (ICMBio), o ataque de onças contra humanos são extremamente raros e, os letais, praticamente inexistentes.
O que aconteceu no caso Jorge
O caseiro Jorge Ávalos, de 60 anos, conhecido como Jorginho, foi atacado pela onça-pintada na última segunda-feira (21/4) enquanto tentava coletar mel.
A Polícia Militar Ambiental (PMA) encontrou o corpo dele no dia seguinte – os agentes seguiram trilhas e marcas de sangue deixadas pelo animal.
O caso, ainda sob investigação, é considerado raro.
As autoridades avaliam possíveis motivos para o ataque, como escassez de alimentos, comportamento defensivo, período reprodutivo da onça ou alguma ação involuntária da vítima que possa ter desencadeado a reação do animal.
Algumas ações do homem podem fazer com que animais silvestres mudem sua dieta e rotina. No caso Jorge, imagens de segurança mostraram que as onças da região eram frequentemente alimentadas por pessoas, caracterizando a prática de ceva. Tal prática traz riscos para todas as pessoas que transitam no local ou que ali residem, podendo culminar em acidentes fatais.
O biólogo Carlos Eduardo Nóbrega explica que a ceva de onças se dá quando fazendeiros alimentam os felinos para atraí-los para perto do seu terreno, para que visitantes vejam os felinos de perto. “O problema é que isso faz com que a onça comece a associar o ser humano à comida. E, quando ela se depara com uma pessoa sem alimento, pode passar a enxergá-la como parte de sua dieta”, pontua Nóbrega.
Porém, Nóbrega entende que o caso do caseiro Jorge foi algo muito raro, no qual a onça-pintada que atacou o homem estava abaixo do peso e sem perspectiva de caça próxima.
“Provavelmente já tinha dificuldade para caçar e conseguir alimento. Por isso, viu o seu Jorge como uma oportunidade para sobreviver, garantindo sua alimentação e seguindo seu ciclo natural”, analisa o biólogo Carlos Eduardo Nóbrega.
Ação humana
No entendimento de muitos estudiosos da zoologia, o embate entre humanos e animais silvestres acontece quando o homem invade o espaço dos felinos. Essa é a visão do professor de zoologia da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Bessa, que entende que é preciso desmentir o mito que animais silvestres são perigosos.
“Se eu fosse fazer uma lista dos animais mais perigosos do mundo, o 1º colocado disparado seríamos nós mesmos. Nenhum animal mata mais indivíduos das outras espécies quanto nós. Animais silvestres só causam algum problema quando faltam condições para que eles vivam em segurança, geralmente somos nós que causamos essa falta de condições”, frisa Bessa.
O professor de zoologia da UnB esclarece que os animais silvestres tendem a evitar o contato com os humanos quando se sentem ameaçados. Para Bessa os acidentes acontecem quando o homem força esse contato. “Todo animal silvestre deve ser respeitado e tem o direito a ser deixado em paz. Devemos admirar o bicho de longe e respeitar seu espaço. Qualquer coisa mais que isso é crime ambiental previsto pela lei 9605, art. 29. E não precisa matar o animal para ser crime. Perseguir, tentar domesticar por meio da alimentação ou acuar também é crime e pode ser punido com multa e até 1 ano de cadeia”, pontua.
Caso Jorge
O ICMBio indica que a onça-pintada que atacou Jorge apresentava comportamento de alta habituação ao ser humano. O animal foi capturado por um médico-veterinário com experiência na ação, em operação conduzida pela Polícia Militar Ambiental, com anuência e orientação do ICMBio e com o conhecimento e alinhamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Após a captura, a onça foi removida para cativeiro. Provisoriamente, permanecerá no CRAS/IMASUL, onde serão realizadas avaliações sobre sua saúde e comportamento.
O futuro do animal será decidido em conjunto pela Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (SEMADESC) e o ICMBio. Próximo capitulo que decidirá o destino da onça será uma instituição autorizada a manter fauna silvestre em cativeiro, com o felino atuando no programa de conservação ex situ da espécie — ou seja, fora do ambiente natural.
Por fim, o biólogo Eduardo Bessa entende que o ataque de onças a humanos não é nada normal nem corriqueiro.
“Temos que lembrar que o ser humano não faz parte da cadeia alimentar da onça. Não somos uma presa natural dela. A onça prefere, principalmente no Pantanal, caçar capivaras, jacarés e outros tipos de caças que são mais abundantes em regiões preservadas – e até mais fáceis de predar do que o ser humano”.
Fonte: Metrópoles