EPISÓDIO 9 – INÉDITO - As reduções franciscanas Antonio Dari Ramos
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Publicado em 22/09/2024

EPISÓDIO 9 – As reduções franciscanas Antonio Dari Ramos Antes de entrarmos no assunto propriamente dito das reduções, qual foi a relação dos franciscanos com a colonização da América? Essa pergunta é importantíssima, pois os franciscanos participaram inclusive dos preparativos da viagem de Cristóvão Colombo, em 1492. O genovês havia feito a proposta de realizar sua famosa viagem em direção ao oeste pelo oceano atlântico ao rei de Portugal, D. João II. Mas não obteve êxito no empreendimento. No seu retorno à Itália, entristecido, pediu hospedagem no convento franciscano de la Rábida, na Espanha. Expôs seus planos e foi ouvido pelo astrônomo e cosmógrafo franciscano Antonio Marchena, que intermediou uma entrevista sua com os reis católicos espanhóis, que aceitaram que ele fizesse a viagem em busca do caminho das índias, chegando até a América. Os franciscanos acompanharam Colombo na segunda viagem que ele fez à América e, desde então, sua presença entre os colonizadores foi constante. Por que precisamos falar das reduções franciscanas de indígenas ao lado das reduções jesuíticas? De maneira alguma quero ofuscar a importância histórica dos jesuítas nos trabalhos realizados nas reduções de indígenas. Mas tenho de fazer justiça histórica, mostrando que os franciscanos se adiantaram em 30 anos a eles nesse trabalho. Por isso, destaco a ação dos freis Alonso de San Boventura e Luis Bolaños, os quais fundaram as reduções de Guaranis no antigo Paraguai, região, como vimos, que abarcava além do atual Paraguai, boa parte da Argentina, Uruguai, Bolívia e Centro Sul do Brasil. Antes deles, porém, os franciscanos Bernardo de Armenta e Alonso Lebrón já tinham já chegado ao continente americano, à ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis, em 1538, e aí iniciaram a catequização dos Guarani através de missões itinerantes. Três anos depois, em 1541, esses franciscanos acompanharam, seguindo o caminho do Peabiru, o Adelantado Alvar Nuñes Cabeza de Vaca até a cidade de Assunção quando ele chegou da Europa para assumir o Governo do Paraguai. Em 1544, ambos os missionários retornaram à Ilha de Santa Catarina e continuaram seu trabalho de catequese. Qual a importância dos franciscanos para a catequese dos guarani? Os primeiros religiosos a aprender a língua guarani foram os franciscanos. O Frei Luis Bolaños foi quem estudou a língua guarani, codificando-a no alfabeto latino e traduzindo-a numa gramática e vocabulário. Ele, com a ajuda do Frei Gabriel da Anunciação, traduziu o catecismo católico para essa língua. Esse catecismo UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens modelou a fé cristã nas reduções franciscanas e jesuíticas do Paraguai ao longo dos séculos XVII e XVIII. No Sínodo de Assunção de 1631 determinou-se que o catecismo de Bolaños seria utilizado como material obrigatório na catequização e doutrinação dos Guarani. A esse catecismo foram agregados naquele momento os artigos da fé e a Salve compostos pelo padre Roque González. Mais tarde, os teólogos jesuítas questionariam, penso eu, com razão, a tradução feita por Bolaños do Deus Cristão como Tupã, uma das tantas divindades guaranis, mas a expressão já estava consolidada, e permanece até hoje como a palavra Guarani que designa Deus. E com relação às reduções franciscanas, o que tem a nos dizer? No início das reduções franciscanas tiveram papel destacado os freis Alonso de San Boaventura e Luis Bolaños, como já dito noutro episódio. Ambos chegaram a Assunção em 1575 tendo construído mais de 40 igrejas entre os indígenas. Os dois franciscanos estenderam o seu trabalho até a região do Guairá, tendo chegado até o rio Tietê, mas acabaram se indispondo com os encomenderos de Vila Rica do Espírito Santo, de onde foram expulsos, por defenderem os indígenas que trabalhavam como escravos nas suas minas de ferro. O número de reduções fundadas pelos franciscanos na Província do Paraguai é impressionante. Entre 1580 e 1797, eles fundaram 33 povoados de indígenas, sendo a primeira Altos e a última San Juan Nepomuceno. Quando os jesuítas fundaram a primeira redução em 1610, eles já tinham fundado 17 delas. As mais conhecidas são Yagarón e Yuty. Se bem que muitas delas tenham tido vida breve. Após a expulsão da Companhia de Jesus da América Espanhola, em 1767, os franciscanos fundaram ainda 10 reduções, tendo assumido ainda 6 reduções que haviam sido dos inacianos, após a sua expulsão. Que diferenças existem entre as reduções jesuíticas e franciscanas? A primeira diferença é com relação à distância das reduções dos povoados de espanhóis. As reduções franciscanas estavam localizadas próximas deles, ao passo que as jesuíticas foram estabelecidas, seguindo a política de Hernandarias, para fugir da ação dos encomenderos. Inclusive, os espanhóis eram proibidos de entrar nos povoados jesuíticos. E aí temos a segunda grande diferença entre os dois modelos reducionais. O franciscano, assim como os povoados de indígenas não dirigidos por religiosos, no Paraguai, estiveram, desde o começo, sujeitos à mita e ao serviço pessoal dos indígenas aos encomenderos, fato que levou a uma rápida diminuição da população desses povoados devido a seus habitantes serem levados forçadamente para trabalhar nas propriedades dos colonizadores. No modelo Jesuítico, os indígenas eram encomendados diretamente ao rei, a quem os missionários pagavam um peso de imposto por pessoa ao ano. Outra diferença é que as reduções franciscanas UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens eram proporcionalmente menores em número de habitantes que as jesuíticas. As primeiras, por exemplo, possuíam entre 500 e mil pessoas. As jesuíticas chegavam a ter entre 4 e 6 mil indígenas. Por fim, as construções jesuíticas foram mais pomposas; as franciscanas, mais sóbrias. Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo! Aguyjevete! Obrigado

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