"TERRUNHO" LANÇAMENTO RICARDO COMASSETTO, 2024.
MÚSICA
Publicado em 09/04/2024

                         

 

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Álbum “TERRUNHO”

 

de Ricardo Comassetto –

                

                   TERRUNHO refere-se, diretamente, à terra! ...Ser da terra!... De uma determinada terra! É termo que vem do espanhol Terruñero, justamente para exaltar e explicar a nossa ligação mais intrínseca com os elementos de um determinado lugar, do solo, da coletividade e do Folclore da nossa “aldeia”.

 

Ricardo Comassetto é um verdadeiro exemplo desta filosofia Terrunha, de como se portar a ela, de como tocar e de como agir para levar sua gente adiante. É ele um defensor da verdadeira música, com sabor de terra adentro, da musicalidade do nosso solo e das manifestações que mantém, ainda viva e forte, toda essa herança que embolsamos e cultivamos através das eras.

 

Em seu segundo álbum – físico e digital – lançado em 8 de Abril, Segunda-Feira, Ricardo Comassetto leva a sua arte, a arte da sua Missões e da sua gente gaúcha e rio-grandense, para falar através de seus botões e foles, claramente sobre de onde veio e para onde se quer ir... E, junto, o que levar!

 

O álbum TERRUNHO realmente dá valor ao seu nome e batismo, sem necessitar de maiores explicações ou palavras, contando com participações mais do que especiais, como as de Luiz Marenco, Joca Martins, Ricardo Bergha, André Teixeira, Gustavo Teixeira e Leonel Gomez; afora o nome expoente da canção chamamecera e latino-americana de Antônio Tarrago Rós.

 

Entre as canções gravadas, alternando temas instrumentais e fortes poemas musicados, o álbum, além das composições das lavras e inspirações do próprio Ricardo Comassetto, apresenta suas influências mais genuínas, através de autores referência do nativismo gaúcho, como: Reduzino Malaquias, Dedé Cunha, Luiz Carlos Borges, Leonel Gomez, Luiz Marenco, Márcio Rosado, Renato Fagundes, afora a gravação dos clássicos “El cielo del Albañil”, de Teresa Parodi e Antônio Tarrago Ros e “Mate Amargo, considerada a primeira Rancheira a ser gravada, de autoria de Carlos Bravo, Francisco Brancatti. Tudo isto complementado pelos poemas de Sérgio Carvalho Pereira e Jayme Caetano Braun, musicados também por Ricardo Comassetto (“Roseta”, em parceria com Joca Martins e “Sombras que vivem” em parceria com Juliano Gomes).

 

Com produção musical conjunta de Luciano Fagundes, gravado entre Agosto de 2023 a Janeiro de 2024 no “KBÇ@_Homestudio”, o projeto ainda conta com os músicos Carlos de Césaro, Rodrigo Maia, Cristian Sperandir, Higor Estremera, Pablo Schinke, Pedro Kaltbach, Rogério Melo e Yuri Menezes, mesclando ritmos e influências, que ultrapassam os limites de sua São Luiz Gonzaga através das influências tanto da fronteira Sul do Estado como da lindeira província argentina de Corrientes.

 

A obra realmente marca um período e deixa, mais uma vez, o nome de Ricardo Comassetto preso, como alça de cordeona, ao colo de quem aprecia a boa música produzida no Rio Grande do Sul.

 

Apreciem, sem moderação... E acompanhem, em todas as plataformas digitais, mais essa obra maestra da música instrumental do nosso Estado, chamada TERRUNHO, nascida das mãos e das inspirações de Ricardo Comassetto.

 

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Contatos:

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Músicos convidados:

 

André Teixeira: Violão faixas 3, 12 / Guitarron faixas 3, 12 / Sapucay faixa 2

Carlos de Césaro: Contrabaixo faixas 6, 8 e 10

Cristian Sperandir: Piano faixa 10

Higor Estremera: Violão solo faixas 3 , 12 e 14 / Violão faixas 6, 10 e 14 / Guitarron faixas 6 e 14 / Arranjo faixa 11

Luciano Fagundes: Guitarron faixas 8 e 13 / Pandeiro faixa 11

Pablo Schinke: Violoncelo faixas 6 e 10

Pedro Kaltbach: Violino faixa 10

Rodrigo Maia: Contrabaixo faixas 1, 2, 3, 4, 5, 9, 11 e 13

Rogério Melo: Pandeiro faixa 3

Yuri Menezes: Violão faixas 1, 2, 4, 5, 8, 9, 11 e 13 / Arranjos faixas 1, 4, 5

João Marcos Negrinho Martins: Arranjos faixas 6 e 10

 

Part. Especial

Ricardo Bergha e André Teixeira faixa 3

Leonel Gomez faixa 6

Antonio Tarragó Ros e Gustavo Teixeira faixa 8

Joca Martins faixa 12

Luiz Marenco faixa 14

 

Ricardo Comassetto, que há anos saiu de seu rincão missioneiro de São Luiz Gonzaga levando no más a sua cordeona, para com esse instrumento alcançar cada pago por donde ronde a sonoridade que identifica o gaúcho, conclui, agora, importante etapa dessa trajetória ao lançar o seu segundo álbum, denominado Terrunho. E, afinal, o que de maior valor poderia desejar um artista da cordeona de botão, que tem em seu espírito a misteriosa magia das Missões, do que ser terrunho?

É claro que, neste caso, ser terrunho não é apenas estar fixado – seja física ou psicologicamente – na própria querência, mas, sim, levá-la de alguma forma mundo afora, dentro do coração ou dentro da cordeona, o que, no caso de um gaiteiro, é praticamente o mesmo. Por outro lado, sabido é que o universo musical – e artístico, como um todo – que tem o gaúcho como elemento principal bandeia fronteiras, intercala idiomas, empresta inspirações. Por isso, fatalmente, um músico terrunho desse universo terá um pouquito das nuances folclóricas de cada paragem que compõe o seu inventário sonoro.

Assim é, afinal, o gaúcho desde sempre: arreando chimarrões, formando tropas, carreteando ou sendo a própria linha de cada fronteira. Se não “cruzou o mundo”, cruzou, ao menos, o seu próprio mundo. Inclusive, muitas vezes, com a cordeona como companheira, como cantou Aureliano de Figueiredo Pinto em seu “Gaiteiro Negro”:

“Ah! Gaita quebra e baiquara

de quanta Revolução!

outra ou tu, rolando mundo

nas Missões, no Passo Fundo,

na Vacaria e o Aceguá.

Tocando ‘degavarzito’

nos plainos de Dom Pedrito,

nos cerros do Caverá”.

Desta forma também vive o artista vinculado ao cenário em que se insere Ricardo Comassetto, andando por rincões diversos, recolhendo de cada um deles o que pode somar à sua identidade, reforçar em sua característica. Por isso, o presente trabalho reafirma suas intenções quando reúne composições, autores, músicos e intérpretes que apontam para as variadas referências que, unidas à pureza que carregou das Missões, o formam como um dos principais representantes da cordeona de botão do Rio Grande do Sul atualmente, compondo e interpretando, ao seu modo, temas apegados a diferentes vertentes sonoras, porém todos reunidos de forma coerente neste repertório, identificados com a sua proposta.

Uma destas outras cordeonas que o Gaiteiro Negro de Aureliano menciona, que ande “rolando mundo”, bem pode ser, hoje, a de Ricardo Comassetto; mas sempre carregando um tanto da própria querência, expressando diferentes influencias com o seu próprio sotaque e mantendo o caráter terrunho que é sinuelo deste gaiteiro que, justamente por isso, neste álbum, parece que alcança o céu de cada melodia sem sacar a sola da alpargata do piso de um rancho missioneiro.

 

 

Francisco Brasil, Bagé e janeiro de 2024.

 

Terrunho/Terruño

 

E em três linhas tu declaras tua história,

tua trajetória de ser fala de uma gente,

uma vertente, olho d’agua da memória,

  que virou rio, para dar voz ao Continente.

 

O instrumento musical a que os versos acima se referem é por origem, por história, um elemento terrunho. Ele tem tantos nomes quanto terras por onde andou: gaita de botão, botoneira, acordeon diatônico, gaita de voz trocada, verdulera... e é parte da formação sonora, musical e cultural de muitos povos. Marcou principalmente a musicalidade da Ásia, Europa e das três Américas, sendo elemento importante nas tradições e no folclore de terras longínquas, aproximadas por sua fala.

Que este trabalho que aqui apresento receba o nome de Terrunho, tendo nascido de um músico executor deste instrumento, é algo muito coerente pela importância da sonoridade dos acordeons diatônicos para os povos ligados à vida junto à terra de várias latitudes e especialmente pela ligação histórica das gaitas de voz trocada com a formação e o reconhecimento de uma sonoridade regional no Sul do Brasil.

O vocábulo “terrunho/terruño”, título deste segundo álbum de Ricardo Comassetto, é daquelas palavras em que as definições dicionarizadas jamais alcançam toda sua extensão, toda sua abrangência, a amplitude do universo que percorrem.

No que se refere à arte, mais especificamente àquela ligada aos povos que vivem junto e da terra no extremo sul americano, dizer-se terrunho é como sacralizar algo. Somente que, aqui, sacralizar ganha um sentido muito próprio: pelo simples, pelo singelo, pelo próximo, pelo íntimo, ou seja, por aquilo que carrega de identificação absoluta, sendo parte indissociável das gentes e dos lugares de onde surge.

No campo da arte musical popular, costumo dizer que: não é necessário mais de três acordes do violão de Paco de Lucia para sabermos que estamos imersos nas vozes do Flamenco. Não é necessário mais de três acordes do bandoneon de Astor Piazolla para sabermos que o mundo do Rio da Prata está presente nesta sonoridade e certamente, não haverá necessidade de mais de três acordes da guitarra Telecaster de Bob Dylan para saber-se caminhando pelo Folk Norte Americano.

Esses ícones sonoros são vozes terrunhas. Identificam e constituem o próprio lugar, a própria geografia, a face sonora, anímica, comportamental, enfim, o jeito de viver de uma gente sobre sua terra.

Assim, da mesma maneira, as notas iniciais e o respirar soprado da gaita de voz trocada, ao principiar uma vaneira crioula, marcam, sem possibilidade de dúvida, o extremo sul do Brasil, a região missioneira e as campanhas do Rio Grande. É um som único, genuíno e profundamente terrunho.

Ricardo Comassetto neste álbum consegue transportar, em momento atual, esse toque e essa respiração, por exemplo em Rincão dos Maciel, chamarra originada do manejar dos botões pelo mestre Reduzino. Comassetto concebe-a agora como se estivessem ambos tocando numa tarde quente de verão na sombra de um pátio de terra nas missões, geografia que abrigou o nascimento e a formação  dos dois gaiteiros.

Ele também, certamente, encontrou o título de seu álbum ao ler os versos de Geadas, grafados em uma folha datilografada pela velha máquina de escrever do Payador Jayme Caetano Braun, e fortaleceu sua ideia de batizá-lo Terrunho ao imaginar, e depois escutar, toda autenticidade da voz do mestre Leonel Gomez com seu interpretar chamamecero.

Comassetto buscou na sua bagagem de músico cruzador dos caminhos do Sul, a criatividade para compor e gravar a chamarra Pulpera, tema autoral que recorda os bolichos das encruzilhadas dos corredores e os bailes de rancho nos rincões remotos, perdidos nas campanhas do Sul mais profundo.

Assim eu poderia ficar aqui identificando o que de terruño carrega cada tema escolhido para compor este trabalho, mas qualquer um que escute esta seleção sentirá que esse foi o critério primeiro.

Neste ambiente musical e poético, criado por respeito a esse parâmetro, a gaita botoneira de Comassetto respirou ares sureños de fronteira nas milongas Roseta e Sombras que Vivem. Trilhou o caminho costeiro, batendo casco no pedregulho dos botões, nos chamamés Rumbeando a Federal, Distante, El Cielo del Albañil e Suíte para Ana Terra (este último, uma homenagem e um agradecimento ao maestro Luiz Carlos Borges). E perdeu-se, para encontrar-se pelos campos sem fim, nas chamarras crioulas Serrinha e Retrechando, na vaneira Bailes do Boqueirão e na rancheira tradicional Mate Amargo.

Tenho orgulho de apresentar esse álbum.

Esse toque de cordeona, esses textos poéticos, essas frases melódicas, os arranjos, a execução dos instrumentistas, as harmonias, tudo, tudo que compõe esse trabalho conspira para um mesmo fim: a afirmação de um conceito.

Aqui o conceito é seu próprio título, ele está apresentado na portada do trabalho. Não é hermético, não está oculto em labirintos desvendáveis para poucos, porque o que rege essa criação é o sentimento terrunho e esse aflora por todo canto, por cada acorde e em toda leitura e interpretação.

Fiquem com esse documento, com esse registro de hoje daquilo que não tem tempo. Esta criação, esse álbum é construído de material atemporal. Porque é de sempre como são as pedras, as aguadas, as matas, os campos, o vento e o som da natureza.  

A propósito, com respeito ao som da natureza, vale dizer que, aqui pelo sul, um observador atento e sensível sem dificuldade perceberá que metido entre a sonoridade dos ventos, o canto dos pássaros, o rumor das chuvas, o rolar das águas das sangas, já anda também, como voz natural do tempo, o toque alegre e profundo das gaitas de botão.

 

Sérgio Carvalho Pereira

 

 

 

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