Episódio 21 Os Charrua e as Missões Jesuíticas - 15.12.2024
Estava esperando o novo episódio inédito da Série CAMPEANDO AS ORIGENS MISSÕES JESUÍTICO-GUARANIS. Está aí. EPISÓDIO 21 – Os Charrua e as missões Jesuíticas Hoje nós vamos conversar sobre o povo Charrua e as missões jesuíticas. Em termos gerais, como era a relação desse povo com os povoados missioneiros? Os Charrua, povo originariamente situados entre os Rios Paraná e Uruguai, ao mesmo tempo que fizeram parte das missões jesuíticas, em especial da Redução de Nossa Senhora dos Reis de Yapeyu, também ofereceram resistência aberta à ocupação espanhola de seu território tradicional, atacando os colonizadores, fossem militares, colonos, religiosos e seus aliados. No caso das reduções que os receberam ao longo do tempo, embora os missionários digam que o clima entre os Guarani e outros povos indígenas fosse muito bom, na realidade isso era desafiador para os jesuítas, tanto que em 1640 os padres escreviam que a Redução de Yapeyu era a mais trabalhosa de todas porque se encontrava mais afastada das demais, por sua gente ser mesclada por vários povos indígenas, dentre eles os Charrua, e porque ficava localizada na fronteira com o território dos Yaró e dos Charrua. De fato, havia um grupo considerável de charruas na redução de Yapeyu, os quais mantinham contato com seus parentes não cristianizados. Por vezes foi inclusive difícil os missionários fazê-los abandonar seus ritos ancestrais, como o rito de cortar partes dos dedos das mãos quando alguém da família falecia, como o que é narrado na carta ânua de 1628 pelo padre Nicolas Mastrilli Durán. Escreveu ele que um jovem morreu numa caçada e sua mãe, que era charrua, com todas suas parentas, se arrancaram os cabelos e cortaram articulações de seus dedos, não sendo possível ao padre realizar o enterro cristão. De maneira geral, entretanto, diria que poucos foram os Charrua que aceitaram reduzirem-se pacificamente. Qual o motivo disso, já que os Guarani parece terem aceito com maior facilidade as missões jesuíticas? Sua questão é bem respondida pelo historiador uruguaio Oscar Padrón Fevre, a quem me associo. Diz ele que muito cedo as autoridades civis e religiosas coloniais perceberam que apenas os grupos sedentários, agricultores, como o eram os Guarani, eram passíveis de uma redução rápida e permanente, pois já possuíam a condição principal: uma cultura estruturada sobre padrões de vida sedentária, com os quais as possibilidades de fuga do avanço colonizador eram muito menores. No caso dos grupos nômades, como os Charrua, sua grande capacidade de movimento – especialmente após se apropriarem do cavalo trazido à América pelos europeus – permitiu-lhes tomar certa distância das frentes colonizadoras para não se verem obrigados a se submeter a elas. No entanto, ao mesmo tempo, tornaram-se dependentes de alguns bens que não produziam e que apenas o contato com as populações do espaço colonial poderia fornecer; portanto, seu afastamento não significou distanciamento, mas sim que buscaram cada vez mais o contato para obter, por vias pacíficas ou não, aquilo que demandavam, geralmente aguardente, erva, tabaco, tecidos e alguns objetos de metal. Também recorreram ao roubo de gado das estâncias, quando o gado ‘cimarrón’ começou a escassear. Dessa maneira, tanto os sacerdotes quanto as autoridades coloniais acabaram por ter a convicção de que apenas o medo de um ataque maciço contra suas tolderias ou o desejo de obter aqueles bens mencionados os movia a fazer a paz com as populações crioulas ou a se incorporar às Missões. Assim, fingiam, na maioria das vezes, uma vontade de sedentarização que desaparecia rapidamente. Na segunda metade do século XVIII, o padre Lozano fez uma descrição longa sobre a cultura dos Charrua e a relação desse povo com as Missões Jesuitícas. Pode falar disso? Sem problemas! Porém, temos de considerar que a visão de Lozano é bem negativa sobre os Charrua, dadas as disputas que aconteceram com eles ao longo da história. Diz o padre que esse povo exibia sua audácia contra todos, sem que ninguém tivesse ousado submetê-los, pois seriam muito traiçoeiros. Eles não se curvavam aos espanhóis e, sob uma capa de amizade, cometiam muitos ataques a eles, salteando em ambas as margens dos rios Paraná e Uruguai. No tempo da conquista, quando ainda não tinham acesso ao cavalo, eram tão ágeis e leves na corrida que alcançavam os mais rápidos gamos; nem os avestruzes lhes faziam vantagem, pois para a caça dessas aves usavam bolas de pedra, as boleadeiras, não apenas para enredá-las e detê-las, atirando-as amarradas a uma corda em seus pés, mas também para feri-las na cabeça, sendo tão certeiros que, a uma distância adequada, não erravam o tiro; e tinham a mesma destreza com o arco, atingindo o alvo a cem passos de distância. No século XVIII eram seriam menos ágeis na corrida, mas muito hábeis no manejo dos cavalos, que eram abundantes. O padre ainda em tom negativo, escreveu que, ao voltar para seu rancho com a caça que conseguiam, os maridos deitavam-se logo na cama, enquanto as mulheres iam lavar o cavalo. Aguyjevete. Obrigado!
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