Episódio 22 As missões Jesuíticas e o povo Yaró - 22.12.2024
Episódio 22 - As missões Jesuíticas e o povo Yaró
Antonio, qual é o assunto do episódio de hoje?
Vimos aqui na Série que os Guarani compartilhavam o espaço geográfico com outras etnias indígenas e que as reduções jesuíticas acabaram mesclando diversas delas, ao mesmo tempo em que os jesuítas criaram alguns povoados especialmente para os povos não Guarani. Vimos também que os Guarani possuíam relações com esses povos, às vezes de paz, outras de guerra. Hoje nós vamos conversar sobre um desses grupos, os Yaró, inimigos históricos dos Guarani, povo com os quais eles viviam em guerra constante.
O povo Yaró ainda existe no momento? Onde eles se localizavam no período colonial?
Então, o povo Yaró foi um dos grupos humanos de deixaram de existir enquanto povo ainda no período colonial. Mas, suas terras tradicionais ficavam localizadas às margens do baixo Rio Uruguai, na atual Argentina e Uruguai.
Mas os Yaró chegaram a atacar as reduções jesuíticas? Que motivos os levava a isso?
Sem dúvidas! De forma direta, a documentação histórica jesuítica indica que eram dois os motivos que os levava a isso: a rivalidade histórica que existia entre os Yaró e os Guarani e a tomada para si do gado pertencente aos povoados missioneiros. Indiretamente, temos aí um terceiro motivo. A criação de povoados e a implantação de propriedades, como as estâncias, geralmente distantes desses povoados, interferiu diretamente na espacialidade dos outros povos indígenas e na sua própria subsistência, principalmente nos seus espaços de caça e pesca. Certamente esses povos, a exemplo dos Yaró, foram impactados pelo sistema reducional e também pela pressão que os demais colonizadores geravam sobre seus territórios tradicionais e reagiram a isso. Há que se dizer que a fundação da Redução de Yapeyu, em 1627, localizada no limite sul do território Guarani, fazia fronteira com o território Charrua e Yaró e nela pretendia-se que as três etnias indígenas estivessem presentes. Isso, porém, gerava inúmeros desafios aos missionários, principalmente por conta das alianças políticas internas na redução e também de seus moradores com seus parentes que viviam fora do povoado. Além do mais, temos de considerar que, para usar o Rio Uruguai como caminho para Buenos Aires, passava-se pelo território dos Yaró, e isso não era bem recebido por eles.
Explique melhor isso que você acabou de dizer!
Vou responder a sua pergunta utilizando as fontes históricas jesuíticas. Lá encontrei o registro de que no dia 20 de dezembro de 1636 saíram a cavalo da redução de Yapeyu 190 pessoas para buscar algum gado na sua estância. Permaneceram um mês e, em 26 de janeiro, ao voltarem com o que haviam juntado, que era bastante, os Yaró os encontraram. Como eles realizavam negócios com a redução, os cristãos acharam que o encontro tinha essa finalidade. Mas, não, os Yaro lhes disseram que tinham ido ao seu encontro para vingar a morte de seus avós e pais, mortos pelos antepassados dos Guarani. Como junto dos vaqueiros estavam crianças e cantores da redução, os cristãos não viram outra alternativa se não enfrentá-los. A guerra começou e os Yaró, com boleadeiras e flechas, mataram 42 dos missioneiros. Durante o conflito, os cristãos mais jovens se esconderam em um pajonal, um pântano coberto de capim, e os Yaro atearam fogo na palhada para que não escapassem. A tragédia só não foi completa porque teria caído uma chuva que apagou o fogo e permitiu-lhes escapar e retornar à Redução. Os missionários, então, pediram ao Capitão D. Nicolas Neenguyru, que tinha autoridade do governador de Buenos Aires para tais situações, que trouxesse 50 soldados para enfrentar os Yaró, que D. Francisco Mbayroba fosse de São Nicolau com mais 50 guerreiros, e de Santa Maria, San Javier e Assunção, cada povoado enviasse 50 soldados. Ao final, os jesuítas conseguiram reunir 340 pessoas, que se uniram aos Charrua que também pretendiam fazer guerra aos Yaró para vingar algumas mortes acontecidas dos seus no passado e foram ao seu encalço, sem grandes resultados. Há outros relatos de lutas contra os Yaró, mas o tempo não permite falar deles. O que se sabe é que os ataques dos Yaró aos indígenas reduzidos ao longo das décadas foram vários, de modo que não se viu outra alternativa senão fazer-lhes guerra a fim de acabar com o problema, segundo memorial escrito em 1702 pelos padres Juan Baptista de Zea e Matheus Sanches, segundo os quais o povo Yaró, com o apoio dos portugueses da Colônia do Sacramento, atacava as reduções. Então, sob o comando do Sargento-mor Alexandre de Aguirre, acompanhado por um exército de indígenas Tape cristianizados e de Guenoas Minuano, considerados amigos, naquele ano fez-se guerra contra os Yaró, Charrua e Mboha que se confederavam contra a colônia. O Exército cristão, formado por 1.100 guerreiros saiu da estância de São Borja, sobre o rio Ibicuy. 900 guerreiros já haviam sido enviados para o campo de batalha, totalizando duas mil pessoas. O grupo estava equipado com oito quintais de pólvora, trinta e duas mil balas, quinhentos e vinte mosquetes, lanças, flechas e boleadeiras. Para o alimento do exército havia quatro mil vacas e o grupo possuía 4 mil cavalos e duas mil mulas a sua disposição. Do Rio Ibibuí, o Exército marchou mais de 150 léguas a procura do inimigo, pelos rios Ibirapitã, Taquaremboti, Caraguatay, Yaguari Piraí e rio Yi. Seis religiosos da Companhia de Jesus acompanharam a batalha, quatro que serviram como Capelães, exortando e animando os indígenas “ao serviço de Deus e do Rei”, e os outros dois como médicos e enfermeiros. Após dois meses de marcha, na primeira batalha, os Yaró, montando em seus cavalos, enfrentaram os 900 guerreiros e mataram vinte e quatro soldados fazendo-os retroceder no campo de batalha. Os Yaró baixaram a guarda, pois acreditavam que tinham vencido a luta, e o Exército dos cristãos deu a volta, rodeando uma porção de terra e os surpreendendo. Após cinco dias de lutas, às margens do rio Yi, a confederação indígena foi vencida e suas mulheres e crianças, em número de mais de 500 pessoas, foram capturadas e levadas para os povoados jesuíticos, onde foram distribuídas para serem catequizadas.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo! Aguyjevete! Obrigado!
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