EPISÓDIO 20 – OS GUALACHO E AS REDUÇÕES  0.12.2024
        EPISÓDIO 20 – OS GUALACHO E AS REDUÇÕES
Já sabemos que nas chamadas Reduções Guarani havia outros povos 
indígenas. Vamos falar dos da família Jê?
Existem diversas evidências históricas, geográficas e linguísticas que indicam 
que os povos chamados de Gualachos na literatura jesuíticas são povos da 
família linguística Jê. Os Jê, atualmente os Kaingang e os Xokleng, foram 
identificados pelos jesuítas também como Guañana, Guayabás, Guananás ou 
Gayanás, Ibirayara e Chiqui, estes localizados entre o rios Piquirí e Iguaçu.
Existia ainda os Coroados.
Na primeira fase das missões jesuíticas, da redução que ficava localizada 
próxima ao grande salto do rio Iguaçu, o padre André Gallego contatou diversas 
vezes os gualacho das cabeceiras do Uruguai e do Iguaçu. Esses povos eram 
inimigos históricos dos Guarani, havendo constantes guerras entre eles, com 
capturas de prisioneiros de ambos os lados. Por esse motivo, com a fundação 
de reduções na região missionária do Guairá, os jesuítas buscaram intervir 
nessas relações belicosas, para a própria segurança das Missões e para que 
esses povos não dificultassem a ligação entre os povoados do Guairá e do 
Paraná, e a melhor forma de consegui-lo era estabelecendo reduções entre eles, 
um dos grandes projetos do padre Antonio Ruiz de Montoya quando era superior 
das missões. Uma dessas reduções foi a de Nossa Senhora de Guañana, 
também chamada de Concepção de Nossa Senhora dos Guañana ou 
simplesmente Acaray; outra, foi a redução da Conceição dos Gualachos, embora 
pequenos grupos deles, estivessem distribuídos em vários outros povoados. 
Uma experiência de convício pacífico entre os Guarani e os povos Jê aconteceu 
na redução de Los Angeles de los Tayobá, que reuniu cerca de 30 caciques de 
povos diferentes.
E como ficava a questão da língua nessas missões?
De fato, havia muita diferença linguística entre eles e os Guarani. Mas, os 
missionários aprenderam a língua gualacha com um guarani cristianizado que a 
falava. Esse guarani ensinou a língua para o Padre Francisco Díaz ao ponto de 
ele traduzir nela a doutrina cristã, tendo traduzido as orações católicas e 
composto um cântico na língua deles, fato que teria feito com que crianças e 
adultos se achegassem ao missionário para aprendê-las. Infelizmente, esse 
material parece ter sido perdido!
E nos costumes, os Gualacho eram diferentes dos Guarani? Vamos falar 
sobre isso?
Sem problemas! Entre os Chiqui, uma de suas parcialidades, os jesuítas 
perceberam que as mulheres tinham muita autoridade sobre seus maridos. Eles
deixaram registrado que os homens possuíam uma única mulher, para eles
emprestada, pois não existia casamento fixo e estável entre os Gualacho. Eles 
percebiam que o Guarani tinha autoridade sobre a mulher para retê-la ou 
dispensá-la. Mas o gualacho não, pois sua mulher, por motivos muito leves, se 
separava do marido e tomava outro, de modo que os homens as deixavam fazer 
o que quisessem. Escandalizado, o missionários diziam que elas cuidavam muito 
pouco de seus maridos (o que era o contrário entre os Guarani), não lhes 
preparando comida nem outra coisa além de criar seus filhos e fazer um pouco 
de chicha, uma bebida fermentada de alto teor alcoólico feita com mel silvestre.
Fisicamente, os Chiqui eram mais altos e a cor da pele mais clara se comparados 
aos Guarani. Eles se vestiam com roupas tecidas com urtigas. Muitos dos 
homens andavam nus, mas todas as mulheres andavam vestidas. Apesar de 
serem extremamente recatas, os missionários as consideravam muito 
intrometidas. Elas seriam extremamente ciumentas de seus maridos.
Os Chiqui dormiam sobre um pouco de palha cobertos com mantas de urtiga. 
Tinham suas casas redondas e pequenas. Todos eram lavradores e o milho era 
seu principal cultivar. Comeriam pouco e seu sustento era à base de pinhões e
da caça de veados, porcos e antas, animais que eram capturados com flechas e 
armadilhas, feitas em forma de cestos muito longos e grandes.
Eles teriam o costume de chorar longamente seus mortos e, se fosse cacique ou 
um parente próximos, matavam duas ou três pessoas ou mais, conforme a 
importância, metade índios e metade índias, para que na outra vida 
acompanhassem os homens e as mulheres fizessem chicha. 
O modo que tinham de enterrar os mortos começava pelo choro a ele em casa 
até que suportassem o odor. Depois, o levavam ao campo, perto do povoado ou 
na roça dos parentes, e lá faziam uma estrutura alta do chão, com a altura de 
uma pessoa, e nele colocavam o corpo coberto de palha. Com o sol e o frio, o 
corpo secava e, depois de seco, faziam muita chicha, limpavam o local, e todos 
se sentavam para beber, enquanto outros queimavam o corpo no meio daquele 
espaço. Depois recolhiam os ossos e faziam um buraco para enterrá-lo. 
Construíam uma casinha muito pequena, redonda, sobre a sepultura, onde cabia 
uma pessoa sentada. Todo ano, os parentes limpavam aquele lugar, e os 
caciques erguiam um monte de terra sobre a sepultura. 
Eles não possuiriam templos, mas seus líderes religiosos eram muito atuantes, 
principalmente na emissão de oráculos após consultar porongos com erva.
Outras descrições etnográficas dos missionários sobre os gualacho indicam que 
havia um fogo no meio da casa e todos se deitavam ao redor dele com os pés 
voltados para o centro. As roupas femininas eram uma saia pequena, que as 
cobria do peito até os joelhos e com a qual trabalhavam, e sobre essa saia 
costumavam usar uma manta grande que as cobria dos ombros até os pés. Essa 
manta também servia para carregar o bebê nas costas.
Por serem extremamente guerreiros, eles se exercitavam todos os dias com 
armas, como atirar com arco em um alvo, correr e carregar cargas pesadas. Às
vezes, eles se carregavam uns aos outros correndo para que, se fossem 
vencidos na guerra e fugindo, pudessem levar os feridos. 
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo! 
Aguyjevete! Obrigado
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