EPISÓDIO 19 – A DIVERSIDADE NAS REDUÇÕES
EPISÓDIO 19 – A DIVERSIDADE NAS REDUÇÕES
O título do episódio de hoje é a diversidade nas reduções jesuíticas. Quer
dizer então que não havia somente pessoas da etnia guarani nas reduções?
De fato, na região onde foram fundadas as reduções chamadas de jesuíticoguarani existiam diversos outros povos indígenas, com línguas e culturas muitos
diferentes. Os jesuítas buscaram integrá-los nos povoados missioneiros, embora
muitos deles fossem inimigos históricos dos Guarani. O que se sabe é que
existiram povoados que contaram com população somente guarani, outros com
populações de povos diferentes e outros foram destinados a grupos
especificamente não Guarani.
Que povos eram estes? Eles ainda existem no presente?
Bom, a colonização foi danosa aos povos indígenas. Dos milhares de povos
encontrados na chegada dos europeus à América, restaram poucas centenas
deles no presente. Tomando como referência somente a parte atualmente
brasileira da antiga Província Jesuítica do Paraguai, veremos que alguns
remanescentes dos antigos povos não guaranis ainda se mantém vivos, como
os pertencentes ao tronco linguístico Jê, os Kaingang e os Xokleng, assim como
os Charrua que vivem um processo de renascimento enquanto povo. Os antigos
Jê eram chamados pelos jesuítas do Guairá de Gualachos, de Guañanas
(também grafados como Guayabás, Guananás ou Gayanás) e de Coroados,
estes assim chamados por conta do corte de cabelo à semelhança dos freis, com
uma espécie de tonsura. Existia ainda um outro grupo de indígenas não guarani,
mais ao sul, chamados genericamente de Pampiano, designativo que incluía os
Charrua, os Yaró e os Guenoa. Logo na sequência dos episódios nós vamos
aprofundar o estudo sobre esses povos.
Se havia uma língua oficial nas reduções, que era a Guarani, como era a
comunicação entre povos tão diferentes?
Muito bem, a resposta para essa pergunta é dada pelo Padre Antonio Ruiz de
Montoya, quando ele escreve sobre a Redução de Nossa Senhora dos Reis. Diz
ele que aquela redução teria sido forjada pela Companhia de Jesus com várias
nações indígenas, com a diversidade de suas línguas, ainda que todos se
entendessem através da língua comum, a Guarani. Quer dizer, a diversidade de
línguas estava presente nas reduções, embora existisse a língua da pregação,
da catequese e da escola indígena, que era a Guarani. Não se pode esquecer,
também, que os missionários, naquelas reduções formadas somente por
pessoas de etnias indígenas que não a Guarani, buscaram compor gramáticas
e catecismos nessas línguas para facilitar o seu trabalho, a exemplo do padre
Francisco Dias que escreveu um catecismo breve, uma arte e um vocabulário na
língua gualacha ou o padre Manuel Ortega que se aprofundou no estudo da
língua Ibirajara. Alguns outros missionários tiveram um pouco mais de
dificuldades em tratar com eles, conforme indicado na carta anua de 1738, como
quando chegaram à Redução de Jesus, vindos do Alto Paraná, quatorze
gualachos, aos quais o padre José Cardiel instruiu com muito esforço devido à
sua diferença com a língua guarani. Foram vários os momentos, também, que
os missionários puderam contar com tradutores indígenas que intermediavam o
diálogo com pessoas de línguas diferentes. Ademais, não se pode esquecer que
havia casamentos interétnicos dentro dos povoados jesuíticos e isso facilitava o
intercâmbio linguístico.
Como os indígenas de outras etnias chegaram até as reduções
guaraníticas?
Foram várias as posibiidades. Temos casos em que sobreviventes de guerras
foram levados para as reduções, como alguns tupi que deserdaram da
companhia dos bandeirantes, mas a maioria deles chegaram às reduções
mediante expedições em suas terras realizadas por missionários e por indígenas
cristianizados. Por exemplo, em 1693 os missionários, acompanhados de
indígenas cristãos, fizeram incursões no território próximo a Loreto para recolher
pessoas para a redução. Eles encontraram guaranis não cristianizados e
também se direcionaram aos Guañana, conseguindo levar sete deles para o
povoado.
Ao longo da história das missões jesuíticas aconteceram inúmeras outras
expedições, como um conjunto delas realizado na década de 1730, quando os
missionários foram até os Guenoa, Guañana e Guayaquino. Aos Guenoa foi o
padre Miguel Jiménez, desde o povoado de São Borja, em 1730 e 1731; aos
Guañana, desde Corpus Christi, em 1730, foi o padre José Pons com o padre
Alejandro Villavieja e outra vez em 1732 os padres Lucas Rodríguez e Diego
Palacios; pela terceira vez, em 1733, foi o padre Pedro Jiménez e, por fim, pela
quarta vez, em 1734, o mesmo padre Jiménez acompanhado pelo padre Lucas
Rodríguez, o qual também foi aos Guayaquino. O resultado dessas expedições
foi o ingresso em Yapejú e Corpus Christi de setenta e quatro indígenas, entre
eles oito guenoas, dos quais um já havia estado na missão, cinco guaranis
fugitivos, cinquenta e sete guañanas, quatro guayaquinos.
Porém, não raras vezes os próprios indígenas realizavam ais incursões
sozinhos. Às vezes isso dava certo, noutros não. Aos mesmos Guañana foram
enviados, por exemplo, em 1700, alguns indígenas Guarani da redução de
Nossa Senhora de Loreto, acompanhados de um cristão Guañana chamado
Pedro Cuso, para falar com eles e ver se estavam dispostos a receber
missionários em suas terras. Após navegar rio acima por três semanas e meia,
chegaram a um porto chamado Ibirapitá, onde desembarcaram e adentraram
doze léguas terra adentro até as primeiras populações. Pedro Cuso falou com
eles, apresentando o propósito de sua vinda. Apesar de algumas pessoas se
mostrarem bons desejos, dois caciques, sendo um deles um cristão que havia
renunciado ao cristianismo, resistiram à proposta e não aceitaram reduzir-se.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado!
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