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SÉRIE - EPISÓDIO 18 – POLÍTICA LINGUÍSTICA NAS MISSÕES JESUÍTICAS. ANTONIORAMOS E TURMA DO DIONISIO
SÉRIE - EPISÓDIO 18 – POLÍTICA LINGUÍSTICA NAS MISSÕES JESUÍTICAS. ANTONIORAMOS E TURMA DO DIONISIO
EPISÓDIO 18 – POLÍTICA LINGUÍSTICA NAS MISSÕES JESUÍTICAS
Vimos alguns episódios atrás que os jesuítas tinham uma grande
preocupação com a língua dos indígenas. Vamos aprofundar o assunto?
Pois, não! De fato, a língua foi talvez o primeiro elemento com o qual os
missionários se preocuparam para que dessem conta não só de congregar os
indígenas nos povoados como para catequizá-los. Eles elaboraram uma política
linguística e a aplicaram em suas missões. Para que isso desse certo, eles
primeiro aprenderam as línguas indígenas, a codificaram no alfabeto conhecido
e depois traduziram a doutrina cristã para essas línguas, ensinando os indígenas
a escrever e a ler nessa mesma língua nas escolas implantadas nos povoados
missioneiros. Na região que fazia parte do Bispado de Assunção, o que era o
caso da maior parte do território atendido pela Província Jesuítica do Paraguai,
a língua escolhida para a doutrinação e catequese foi a Guarani, por ser a mais
falada por diversos povos indígenas. Essa decisão foi tomada pelo Sínodo de
Assunção de 1603 sob o argumento de que havia muitas e difíceis línguas
naquele espaço, de modo que para fazer instrução em cada uma delas era muito
trabalhoso e o guarani, além da universalidade, era aquela que se considerava
mais apta para isso por conta de suas características. O Sínodo determinou que
os padres deveriam aprender as línguas indígenas e todos os que fossem
nomeados como ‘curas de índios’ soubessem pelo menos a língua guarani.
Sabemos que a língua é também um instrumento de colonização. Como a
Coroa espanhola via essa determinação?
Vou responder a sua pergunta utilizando a Cédula Real sobre a língua
castelhana e o idioma dos indígenas, 1596 . Nela há duas posições que deviam
ser observadas. Uma delas é a determinação que viria a aparecer no Sínodo de
Assunção de 1603 sobre a garantia de que os curas soubesse muito bem a
língua dos indígenas que deveriam catequisar para que seu trabalho resultasse
na sua boa instrução e conversão ao cristianismo. A outra diz respeito a uma
visão de certa forma negativa com relação às línguas indígenas, assim expressa:
“Considerando que se tem entendido que na melhor e mais perfeita língua dos
índios não é possível explicar bem nem com propriedade os mistérios da fé,
exceto com grandes lacunas e imperfeições; e que, embora existam cátedras
onde são ensinados os sacerdotes que devem doutrinar os índios, isso não é um
remédio suficiente devido à grande variedade de línguas; e que a solução seria
introduzir o castelhano, como língua mais comum e adequada: ordeno, então,
que, com a melhor organização possível e de maneira que seja menos incômoda
para os índios e sem custo para eles, providencieis mestres para aqueles que
voluntariamente desejarem aprender a língua castelhana”. Em outras palavras,
não havia obrigatoriedade de os indígenas aprender a língua dos
conquistadores. A bem da verdade, na região do atual Paraguai e em boa parte
da Argentina a língua guarani se impôs, inclusive sobre o próprio espanhol. E
isso é perceptível até a atualidade.
E como os jesuítas se preparavam em termos de aprendizagem das línguas
indígenas?
A necessidade de aprender as línguas indígenas é algo que fica muito evidente
nas orientações dos superiores jesuítas. A começar pela recomendação dada
pelo padre Geral dos Jesuítas Cláudio Acquaviva ao provincial do Peru, Baltasar
Piñas, em carta de 1584, na qual ele escrevia que era conveniente que todos os
que viessem da Europa aprendessem as línguas indígenas. Se forem
sacerdotes, logo que chegavam, e se escolares, ao final dos estudos, antes de
serem ordenados. Em 1603, o mesmo padre Aquaviva foi mais enfático na
orientação, indicando que nenhum dos candidatos à ordem sacerdotal fosse
ordenado se não conhecesse bem a língua indígena. Para facilitar isso, ele
indicava que durante o tempo da terceira provação existisse um período
determinado de estudos linguísticos, mas que, se fosse necessária a ordenação
sem que se soubesse a língua, que o candidato não se ocupasse de algumas
atividades, como a confissão, até conhecê-la bem. Orientava também que os
futuros missionários, para que não esquecessem a língua já aprendida, deviam
pregar no refeitório da casa. E mais, a partir daquele momento, era impossível
chegar à profissão solene e ao último grau de formação se o missionário não
tivesse aprendido bem a língua, ficando-lhe vedado confessar e catequizar os
indígenas. Ordens similares foram replicadas no interior da Província Jesuítica
do Paraguai, como na Primeira Congregação provincial, acontecida em 1608, e
também nas instruções do Padre Diego de Torres Bollo. Em 1609, Diego de
Torres instruiu os Padres José Cataldino e Simón Maceta para que que
cuidassem do cultivo pessoal cotidianamente, não esquecendo de estudar a
língua Guarani, exercitando-a diretamente com os indígenas. Em 1610, ele
enviou instruções para todos os missionários para que se dedicassem ao
aprendizado da língua, não se contentando em sabe-la de qualquer maneira,
mas com excelência. Depois que chegavam à missão, no quarto mês o jesuíta
mais experiente testava os conhecimento linguísticos do novo companheiro, e
só depois disso ele podia confessar e realizar pregações.
Antes de finalizar, tenho de tocar ainda num ponto de muita desinformação sobre
as missões jesuítas, que é sobre uma suposta proibição do espanhol nos
povoados indígenas. Oficialmente, ela nunca ocorreu. Os Guarani aprendiam a
ler e a escrever na sua língua e também em espanhol e latim nas escolas dos
povoados e aqueles que saíam para comerciar e para trabalhar na construção
de obras públicas e na defesa colonais, tinham contato com a língua espanhola,
tendo aprendido a se comunicar por ela, mas o amor por seu ‘avá ñee’, a sua
língua, era bem maior e preferiram sua língua ao espanhol!
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado
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