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SÉRIE CAMPENADO AS ORIGENS - EPISÓDIO 17 – Vida e obra do Padre Roque González
SÉRIE CAMPENADO AS ORIGENS - EPISÓDIO 17 – Vida e obra do Padre Roque González
EPISÓDIO 17 – Padre Roque González
Quando acessamos a história das missões jesuíticas ou quando visitamos
hoje suas ruínas em pedra, nos deparamos com a história do Padre Roque
González de Santa Cruz. Vamos conversar sobre ele?
Com todo o prazer! De fato, ele é um personagem central no avanço das missões
jesuíticas nas bacias dos rios Paraná e Uruguai, local onde foi morto junto de
outros dois jesuítas, Afonso Rodrigues e João de Castilhos.
Poderia falar um pouco da vida do padre Roque González?
Sem problemas! Diferentemente da quase totalidade dos missionários jesuítas,
Ele é americano, nasceu em mil quinhentos e setenta e seis em Assunção, no
Paraguai, e aí temos uma grande vantagem que o destacava: ele teve contato
com a língua guarani desde criança, a qual falava perfeitamente como nativo!
Mas ele não ingressou menino na Companhia de Jesus. Ele já era sacerdote
quando fez isso. Ele foi ordenado em 1598, com vinte e dois anos. Mas decidiu
ingressar na Companhia de Jesus 9 anos depois, em mil seiscentos e nove, após
acompanhar um sermão do padre Jesuíta Marcel Lorenzana que pedia que as
autoridades espanholas reparassem o que considerava uma injusta represália
que se fazia contra o povo Guató, os quais pagavam pela morte dos espanhóis
da cidade de Xérez, localizada a 80 léguas ao norte de Assunção. Naquela
ocasião, o tesoureiro da Catedral obrigou Lorenzana a calar-se e a descer do
púlpito. Algumas semanas depois, o padre Roque pediu para entrar na
Companhia de Jesus.
Ele foi aceito e naquele mesmo ano iniciou o noviciado, passando parte dos dois
anos entre os Guaicurú, um povo temido pelos colonizadores. Em mil seiscentos
e onze professou os votos religiosos e foi destinado para trabalhar na Redução
de San Ignácio Guasu, entre os Guarani. Mas, já a partir de 1612, obedecendo
as ordens de Lorenzana, faz diversas entradas às margens do rio Paraná para
fundar novas reduções. E ele fundou diversas delas. Só em mil seiscentos e
quinze ele fundou Itapúa, Santa Ana e Yaguapoá.
Nove anos depois do ingresso na Companhia de Jesus, em mil seiscentos e
dezoito, ele fez a sua profissão solene, em Itapúa. E continuou o trabalho de
expansão do campo missionário, fundando em mil seiscentos e vinte a redução
de Concepción, quando já atuava como superior local na frente missionária do
Uruguai. Sua liderança o levou a ser nomeado, em mil seicentos e vinte e seis,
Superior das Missões do Paraná, que incluía também as Missões do Rio
Uruguai. Ele fundou ainda, naquele mesmo ano as reduções de San Nicolás del
Piratiní y de San Francisco Javier. Ele participou ainda da fundação das
reduções de Yapeyú e de Nuestra Señora de la Candelaria del Caazapá miní,
em mil seiscentos e vinte e sete e, em mil seiscentos e vinte e oito, das reduções
de Assunção do Ijuí e Todos os Santos de Caaró, onde foi morto, com 52 anos.
Imagino que o padre Roque, na entrada nas terras indígenas e na criação
tantas reduções, tenha passado muitos apuros. Foi assim mesmo?
Veja, ele tinha grande domínio da língua indígena e misturava isso com os
estudos de retórica que possuía. Ele era um grande orador, o que era
grandemente apreciado pelos Guarani. Mas ele era também uma pessoa de
personalidade muito forte. Antes mesmo de entrar na Companhia de Jesus, ele
havia entrado numa contenda muito grande com o bispo de Assunção. Seus
biógrafos e seus estudos mostram, entretanto, que ele enfrentou lideranças
indígenas, com palavras fortes, em mais de um momento. Mas eu trago aqui a
entrada que ele fez para abrir o campo missionário do Tape. Subindo pelo rio
conhecido na época como Ibicuití, os indígenas do lugar pediram para que não
fosse adiante sob risco de ser morto. Ele os convence a deixa-lo seguir e ergue
uma grande cruz adiante, criando a Redução de Candelária. Na segunda vez
que ele retorna ao local, a cruz tinha sido derrubada pelos indígenas, os quais
estavam descontentes algumas lideranças por terem aceito a presença de
europeus em suas terras. Ele os enfrenta com palavras e os convence a refundar
a redução noutro lugar, com evidente risco de ser morto. Mas, temos de entender
que, nos anos compreendidos entre mil seiscentos e quinze e mil seiscentos e
vinte e oito, vários foram os levantes de indígenas que os jesuítas tiveram de
enfrentar na região, motivados pelo não aceite das lideranças indígenas em
abandonar seu modo de ser tradicional, mas também porque não queriam
estrangeiro algum em suas terras devido à fama que eles possuíam de atacar a
alteridade indígena.
E sobre a morte do padre Roque González nas mãos dos indígenas em
Caaró, o que tem a nos dizer?
Primeiro eu tenho de salientar que as fontes históricas mostram de forma muito
evidente um elemento político na morte do padre. Os indígenas, principalmente
suas lideranças políticas, perceberam que a colonização atingia em cheio seus
territórios e seu cotidiano, e os missionários eram agentes da colonização.
Segundo, não podemos esquecer que Roque González era um missionário, que
acreditava piamente estar salvando as almas dos indígenas e que a salvação
deles dependia de abandonar o modo de ser tradicional que se chocava com o
cristianismo. Para isso, ele enfrentou as lideranças religiosas indígenas, e muitas
delas reagiram a isso. Temos aí um elemento religioso, o qual se desdobra num
aspecto social. Se antes da chegada dos jesuítas, as lideranças indígenas
políticas e religiosas eram respeitadas pelo povo, agora o respeito dependia da
aliança com o missionário. Ñezú, como vimos aqui, foi um aliado dos
missionários até que se sentiu agredido moralmente e liderou o ataque a eles.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado
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