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EPISÓDIO 12 – A emblemática batalha de M’bororé. CAMPEANDO AS ORIGENS - SERIE.
EPISÓDIO 12 – A emblemática batalha de M’bororé. CAMPEANDO AS ORIGENS - SERIE.
EPISÓDIO 12 – A emblemática batalha de M’bororé
Antonio Dari Ramos
Antonio, conversa vai, conversa vem e a gente que acompanha a história
das missões Jesuíticas se depara com a batalha de M’Bororé. Você pode
falar sobre o que foi essa batalha?
Olá! Essa batalha foi o confronto que aconteceu entre os indígenas das missões
jesuíticas com os bandeirantes paulistas e seus apoiadores entre 11 e 18 de
março de 1641, no encontro do rio Uruguai com o rio Mbororé, no atual município
de Panambi, na Província de Missiones, Argentina, em frente ao atual município
gaúcho de Porto Vera Cruz. A maior parte das escaramuças bélicas aconteceu
sobre as águas desses dois rios e, embora os números sejam conflitantes,
acredita-se que tenha envolvido mais de 7.000 combatentes, 4.200 missioneiros
armados contra 450 bandeirantes, mestiços e mercenários mais 2.700 indígenas
Tupis. O número de baixas do lado bandeirante foi quase total, com uma vitória
retumbante do exército missioneiro.
Vimos no episódio anterior que a administração colonial espanhola pouco
fez para proteger as reduções dos ataques bandeirantes, inclusive
dificultando que elas usassem armas de fogo. O que isso tem a ver com a
Batalha de Mbororé?
Veja, a partir de 1620, os ataques das bandeiras paulistas vinham destruindo
reduções jesuítico guaranis inteiras, violentando e escravizando os indígenas,
como vimos no episódio anterior, forçando à transmigração de várias delas para
outros lugares. Mas, os jesuítas conseguiram que o rei da Espanha levantasse
a proibição que havia dos nativos utilizarem armas de fogo, tendo papel
importante nessa história o Padre Antonio Ruiz de Montoya, que foi até Madrid
com o objetivo de convencer o rei da importância disso. Depois da aprovação
real, os missionários não só conseguiram armas de fogo, como fabricaram uma
série delas e treinaram os indígenas reduzidos com constantes exercícios de
guerra para enfrentar o inimigo. Mas não só isso, conseguiram uma Bula papal
que excomungava quem atacasse as reduções, visando a escravização de sua
população. Isso tudo está nos antecedentes da Batalha de Mbororé.
Mas os jesuítas entendiam de guerra? Como foi a participação indígena no
condução das batalhas?
Para dar conta de fazer frente aos ataques bandeirantes, a Companhia de Jesus
pode contar com religiosos que haviam sido militares antes do ingresso na
Ordem como Juán Cárdenas, Antonio Bernal e Domingos Torres. Mas a maior
parte da batalha aconteceu nas águas, vários outros jesuítas participaram da
construção de balsas como Pedro Mola, Cristóvão de Altamirano, Miguel Gomez
outros. Mas o comando militar ficou sob os cuidados dos caciques indígenas
Ignácio Abiarú, Nicolàs Nhienguirú, Arazay e Francisco Mbayrobá, sob
supervisão do padre Pedro Romero.
Mas, excomungar quem escravizava os indígenas missioneiros tinha
algum resultado prático?
Eu diria que isso possuía mais um peso de censura moral que outra coisa, pois
aos bandeirantes não interessava se estavam atacando cristãos ou não, mas o
resultado disso que era conseguir a tão almejada mão de obra escrava. Por isso
é que a Bula papal não foi bem recebida na colônia portuguesa. O que sabemos
é que o padre Francisco Díaz Taño, procurador da Província Jesuítica do
Paraguai, retornava da Europa, em 1640, e fez publicar o documento papal no
Rio de Janeiro, gerando grande revolta dos habitantes da cidade e também de
Santos, São Paulo e São Vicente contra os jesuítas.
Já ouvi falar que os ataque dos bandeirantes contra as reduções, em 1641,
associava esse descontentamento à um sentimento de vingança presente
entre eles. Poderia falar melhor disso?
De fato, havia a associação desses dois elementos. Na verdade, o
descontentamento resultou numa reunião na Câmara Municipal de São Paulo,
órgão que autorizava as incursões bandeirantes, da qual resultou a organização
de uma grande expedição para atacar e destruir de vez as reduções jesuíticas
do Tape, com o intuito de vingar a derrota do bandeirante Pascoal Leite Pais em
Caazapa Guasu. Foi assim que no mesmo ano de 1640, sob a liderança de
Jerônimo Pedroso de Barros e Manuel Pérez, a bandeira partiu em direção ao
Sul. Depois de uma parada no Rio Chapecó para a construção de balsas, eles
seguiram pelo Rio Uruguai, encontrando o exército missioneiro que já os
esperava.
E como foi a batalha? Pode contar detalhes dela?
Na verdade, a batalha principal aconteceu no dia 11 de março de 1641, e durou
em torno de cinco dias. Mesmo que os bandeirantes e seus aliados contassem
com cerca de 700 canoas e estivessem bem armados, o bom treinamento, a
geografia do lugar e o maior número de missioneiros foi determinante para a
vitória jesuítico-guarani. O exército missioneiro pode contar com 110 balsas e
canoas, com 300 arcabuzes, mas também com batalhões de flecheiros e com
armas improvisadas, como uma catapulta que arremessava troncos em chamas
e canhões de taquaruçu revestidos de couro, que disparavam poucos tiros até
se desmontar e também com apoio de pessoal nas margens do rio. Os
bandeirantes foram derrotados na batalha sobre as águas e tiveram de fugir,
tendo conseguido retornar para São Paulo, com vida, pouco mais de uma
centena deles. Eles ainda tentariam outra escaramuça no final de 1641
,buscando reverter os danos, mas foram obrigados mais uma vez a retroceder,
deixando as missões jesuíticas da região em paz, direcionando seus ataques
para a região do Itatim, atual Mato Grosso do Sul. Com isso, 30 povoados
missioneiros se estabilizaram na região, inclusive com a fundação dos chamados
Sete Povos em solo gaúcho.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado!
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