EPISÓDIO 11 – Inimigos das reduções os bandeirantes
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens EPISÓDIO 11 – As reduções e os ataques bandeirantes Antonio Dari Ramos O que levou os bandeirantes paulistas a destruir as reduções jesuíticas? Eu diria que foram dois fatores que levaram a isso: os conflitos de fronteira e a busca de mão-de-obra para tocar as propriedades paulistas. Os conflitos de fronteira têm a ver com o que dissemos noutro episódio sobre Portugal nunca ter se conformado com a divisão das terras coloniais, avançando, durante a União Ibérica, para o oeste e para o sul do Brasil. Nesse espaço, o principal obstáculo para o avanço português eram as reduções jesuíticas. Sobre a busca de mãode-obra, temos de considerar que São Paulo era um espaço marginal e de escassos recursos financeiros no período colonial. Isso teria motivado a seus moradores, inseridos que eram na economia escravista, a buscar mão-de-obra barata entre os que chamavam de negros da terra, os indígenas. As reduções jesuíticas se apresentaram como a alternativa de menor custo para o apresamento dos indígenas que seriam escravizados nos seus empreendimentos econômicos. Em termos numéricos, qual foi o impacto das bandeiras paulistas sobre os povos indígenas? Estimativas indicam que as sucessivas bandeiras acontecidas entre 1612 e 1638 tenham escravizado 300 mil indígenas. Somente entre os anos 1628 e 1631 foram escravizados 60 mil indígenas reduzidos. No Guairá, na época existiam duas cidades de espanhóis e 13 reduções jesuíticas. Dessas, os bandeirantes destruíram onze povoados, menos Loreto e Santo Inácio, reduções que transmigraram mais para o sul, para a atual Argentina, entre os rios Uruguai e Paraná. Dos 12 mil que transmigraram, (sete mil que haviam fugido das reduções destruídas e cinco mil de Loreto e de Santo Inácio), chegaram ao destino, em 1631, somente 4 mil pessoas, pois duas mil morreram no trajeto, de fome e de peste, e seis mil debandaram. No Itatim, atual Mato Grosso do Sul, as Reduções foram destruídas pelos bandeirantes em 1643 e os seus sobreviventes se estabeleceram em duas reduções, Santa Maria da Fé e Santo lnácio. Mas, devido a sucessivas incursões de bandeirantes e de indígenas guaicurus, migraram finalmente para a região do Paraná em 1669. Na região conhecida como Tape, ou ‘Tapê’, atual Rio Grande do Sul, das 14 reduções fundadas a partir de 1626, seis foram destruídas pela ação bandeirante e as demais transmigraram para o lado ocidental do Rio Uruguai entre 1637 e 1638. Acreditase que tenham sido escravizados em torno de 15 mil indígenas reduzidos da região do Tape. UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens Como bem analisa a historiadora Ítala Becker, desmanteladas as frentes missionárias do Guairá, do Itatim e do Tape, os povoados missioneiros se concentraram num espaço muito menor, correspondente a partes do Paraguai, da Argentina e do extremo sul do Brasil. Assim, de 80 fundações iniciais, os povoados de indígenas se reduziram a 30, conhecido como os Trinta Povos das Missões. Mas a tranquilidade nunca se instalou de maneira definitiva, pois Portugal continuou pressionando a Espanha para ocupar o território dos sete povos das missões, conseguindo, na segunda metade do século XVIII, ocupar em definitivo o espaço. Não fosse a ação dos bandeirantes sobre as missões jesuíticas, teríamos hoje, certamente, outra configuração geopolítica na região. O que isso tem a ver com o que conhecemos como 1º e 2º ciclos missioneiros? É importante que eu diga que as expressões 1º e 2º ciclos só fazem sentido para as reduções fundadas em solo brasileiro. O segundo ciclo se refere ao retorno e à fundação de reduções no lado oriental do Rio Uruguai, depois da transmigração para o outro lado do Rio, para o território da atual Argentina. É o momento dos chamados sete povos localizados em solo gaúcho e compreende o período entre 1682 e 1756. E como as autoridades espanholas viam esses ataques bandeirantes? Os jesuítas acusavam as autoridades espanholas não somente de inoperância diante da situação, mas de facilitar e patrocinar a prática de escravização dos indígenas. Como exemplo disso citam o casamento do Governador do Paraguai Luiz Céspedes com a sobrinha do então governador do Brasil, em 1628. Como o casamento teria acontecido no Rio de Janeiro, os portugueses o acompanharam até Assunção, por via terrestre, passando pelo Guairá, tendo iniciado aí a grande campanha de destruição das reduções já que ele abrira o caminho para os bandeirantes chegarem até a capital do Paraguai. O Governador estaria interessado em seus negócios em território brasileiro, conquistados como dote de casamento, de modo que facilitava a escravização de indígenas por lhe era lucrativa. Em 1631, D. Luiz Céspedes sofreu um processo judicial e foi responsabilizado pela destruição das reduções e perda do território do Guairá para os portugueses. Como os jesuítas reagiram aos ataques bandeirantes às reduções? É importante que se diga que os jesuítas, assim como em relação aos encomenderos, ficaram ao lado dos indígenas. Os relatos que povoam a documentação jesuítica são sempre elucidativos do sentimento de impotência dos missionários diante da atrocidade dos bandeirantes e da passividade das autoridades coloniais espanholas. Num segundo momento, porém, os jesuítas partem para a estratégia de buscar autorização para armar os indígenas para UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens enfrentar o ataque português. É quando o padre Antonio Ruiz de Montoya vai pessoalmente a Madri e consegue autorização para criar, armar e treinar um exército indígena para fazer frente aos bandeirantes e seus apoiadores tupis. O resultado disso veremos no próximo episódio, quando trataremos sobre a emblemática vitória conseguida pelos indígenas na batalha de M’bororé. Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo! Aguyjevete! Obrigado!
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