EPISÓDIO 11 – Inimigos das reduções os bandeirantes
UNIVERSIDADE FEDERAL DA
GRANDE DOURADOS
Faculdade Intercultural Indígena
Projeto Campeando as Origens –
Série Missões Jesuítico-Guaranis
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Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos
Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br
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EPISÓDIO 11 – As reduções e os ataques bandeirantes
Antonio Dari Ramos
O que levou os bandeirantes paulistas a destruir as reduções jesuíticas?
Eu diria que foram dois fatores que levaram a isso: os conflitos de fronteira e a
busca de mão-de-obra para tocar as propriedades paulistas. Os conflitos de
fronteira têm a ver com o que dissemos noutro episódio sobre Portugal nunca ter
se conformado com a divisão das terras coloniais, avançando, durante a União
Ibérica, para o oeste e para o sul do Brasil. Nesse espaço, o principal obstáculo
para o avanço português eram as reduções jesuíticas. Sobre a busca de mãode-obra, temos de considerar que São Paulo era um espaço marginal e de
escassos recursos financeiros no período colonial. Isso teria motivado a seus
moradores, inseridos que eram na economia escravista, a buscar mão-de-obra
barata entre os que chamavam de negros da terra, os indígenas. As reduções
jesuíticas se apresentaram como a alternativa de menor custo para o
apresamento dos indígenas que seriam escravizados nos seus
empreendimentos econômicos.
Em termos numéricos, qual foi o impacto das bandeiras paulistas sobre os
povos indígenas?
Estimativas indicam que as sucessivas bandeiras acontecidas entre 1612 e 1638
tenham escravizado 300 mil indígenas. Somente entre os anos 1628 e 1631
foram escravizados 60 mil indígenas reduzidos. No Guairá, na época existiam
duas cidades de espanhóis e 13 reduções jesuíticas. Dessas, os bandeirantes
destruíram onze povoados, menos Loreto e Santo Inácio, reduções que
transmigraram mais para o sul, para a atual Argentina, entre os rios Uruguai e
Paraná. Dos 12 mil que transmigraram, (sete mil que haviam fugido das reduções
destruídas e cinco mil de Loreto e de Santo Inácio), chegaram ao destino, em
1631, somente 4 mil pessoas, pois duas mil morreram no trajeto, de fome e de
peste, e seis mil debandaram. No Itatim, atual Mato Grosso do Sul, as Reduções
foram destruídas pelos bandeirantes em 1643 e os seus sobreviventes se
estabeleceram em duas reduções, Santa Maria da Fé e Santo lnácio. Mas,
devido a sucessivas incursões de bandeirantes e de indígenas guaicurus,
migraram finalmente para a região do Paraná em 1669. Na região conhecida
como Tape, ou ‘Tapê’, atual Rio Grande do Sul, das 14 reduções fundadas a
partir de 1626, seis foram destruídas pela ação bandeirante e as demais
transmigraram para o lado ocidental do Rio Uruguai entre 1637 e 1638. Acreditase que tenham sido escravizados em torno de 15 mil indígenas reduzidos da
região do Tape.
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Como bem analisa a historiadora Ítala Becker, desmanteladas as frentes
missionárias do Guairá, do Itatim e do Tape, os povoados missioneiros se
concentraram num espaço muito menor, correspondente a partes do Paraguai,
da Argentina e do extremo sul do Brasil. Assim, de 80 fundações iniciais, os
povoados de indígenas se reduziram a 30, conhecido como os Trinta Povos das
Missões. Mas a tranquilidade nunca se instalou de maneira definitiva, pois
Portugal continuou pressionando a Espanha para ocupar o território dos sete
povos das missões, conseguindo, na segunda metade do século XVIII, ocupar
em definitivo o espaço. Não fosse a ação dos bandeirantes sobre as missões
jesuíticas, teríamos hoje, certamente, outra configuração geopolítica na região.
O que isso tem a ver com o que conhecemos como 1º e 2º ciclos
missioneiros?
É importante que eu diga que as expressões 1º e 2º ciclos só fazem sentido para
as reduções fundadas em solo brasileiro. O segundo ciclo se refere ao retorno e
à fundação de reduções no lado oriental do Rio Uruguai, depois da
transmigração para o outro lado do Rio, para o território da atual Argentina. É o
momento dos chamados sete povos localizados em solo gaúcho e compreende
o período entre 1682 e 1756.
E como as autoridades espanholas viam esses ataques bandeirantes?
Os jesuítas acusavam as autoridades espanholas não somente de inoperância
diante da situação, mas de facilitar e patrocinar a prática de escravização dos
indígenas. Como exemplo disso citam o casamento do Governador do Paraguai
Luiz Céspedes com a sobrinha do então governador do Brasil, em 1628. Como
o casamento teria acontecido no Rio de Janeiro, os portugueses o
acompanharam até Assunção, por via terrestre, passando pelo Guairá, tendo
iniciado aí a grande campanha de destruição das reduções já que ele abrira o
caminho para os bandeirantes chegarem até a capital do Paraguai. O
Governador estaria interessado em seus negócios em território brasileiro,
conquistados como dote de casamento, de modo que facilitava a escravização
de indígenas por lhe era lucrativa. Em 1631, D. Luiz Céspedes sofreu um
processo judicial e foi responsabilizado pela destruição das reduções e perda do
território do Guairá para os portugueses.
Como os jesuítas reagiram aos ataques bandeirantes às reduções?
É importante que se diga que os jesuítas, assim como em relação aos
encomenderos, ficaram ao lado dos indígenas. Os relatos que povoam a
documentação jesuítica são sempre elucidativos do sentimento de impotência
dos missionários diante da atrocidade dos bandeirantes e da passividade das
autoridades coloniais espanholas. Num segundo momento, porém, os jesuítas
partem para a estratégia de buscar autorização para armar os indígenas para
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enfrentar o ataque português. É quando o padre Antonio Ruiz de Montoya vai
pessoalmente a Madri e consegue autorização para criar, armar e treinar um
exército indígena para fazer frente aos bandeirantes e seus apoiadores tupis. O
resultado disso veremos no próximo episódio, quando trataremos sobre a
emblemática vitória conseguida pelos indígenas na batalha de M’bororé.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado!
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