EPISÓDIO 09 – As reduções franciscanas
EPISÓDIO 9 – As reduções franciscanas
Antonio Dari Ramos
Antes de entrarmos no assunto propriamente dito das reduções, qual foi a
relação dos franciscanos com a colonização da América?
Essa pergunta é importantíssima, pois os franciscanos participaram inclusive dos
preparativos da viagem de Cristóvão Colombo, em 1492. O genovês havia feito
a proposta de realizar sua famosa viagem em direção ao oeste pelo oceano
atlântico ao rei de Portugal, D. João II. Mas não obteve êxito no empreendimento.
No seu retorno à Itália, entristecido, pediu hospedagem no convento franciscano
de la Rábida, na Espanha. Expôs seus planos e foi ouvido pelo astrônomo e
cosmógrafo franciscano Antonio Marchena, que intermediou uma entrevista sua
com os reis católicos espanhóis, que aceitaram que ele fizesse a viagem em
busca do caminho das índias, chegando até a América. Os franciscanos
acompanharam Colombo na segunda viagem que ele fez à América e, desde
então, sua presença entre os colonizadores foi constante.
Por que precisamos falar das reduções franciscanas de indígenas ao lado
das reduções jesuíticas?
De maneira alguma quero ofuscar a importância histórica dos jesuítas nos
trabalhos realizados nas reduções de indígenas. Mas tenho de fazer justiça
histórica, mostrando que os franciscanos se adiantaram em 30 anos a eles nesse
trabalho. Por isso, destaco a ação dos freis Alonso de San Boventura e Luis
Bolaños, os quais fundaram as reduções de Guaranis no antigo Paraguai, região,
como vimos, que abarcava além do atual Paraguai, boa parte da Argentina,
Uruguai, Bolívia e Centro Sul do Brasil.
Antes deles, porém, os franciscanos Bernardo de Armenta e Alonso Lebrón já
tinham já chegado ao continente americano, à ilha de Santa Catarina, atual
Florianópolis, em 1538, e aí iniciaram a catequização dos Guarani através de
missões itinerantes. Três anos depois, em 1541, esses franciscanos
acompanharam, seguindo o caminho do Peabiru, o Adelantado Alvar Nuñes
Cabeza de Vaca até a cidade de Assunção quando ele chegou da Europa para
assumir o Governo do Paraguai. Em 1544, ambos os missionários retornaram à
Ilha de Santa Catarina e continuaram seu trabalho de catequese.
Qual a importância dos franciscanos para a catequese dos guarani?
Os primeiros religiosos a aprender a língua guarani foram os franciscanos. O Frei
Luis Bolaños foi quem estudou a língua guarani, codificando-a no alfabeto latino
e traduzindo-a numa gramática e vocabulário. Ele, com a ajuda do Frei Gabriel
da Anunciação, traduziu o catecismo católico para essa língua. Esse catecismo
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GRANDE DOURADOS
Faculdade Intercultural Indígena
Projeto Campeando as Origens –
Série Missões Jesuítico-Guaranis
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Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos
Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br
Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens
modelou a fé cristã nas reduções franciscanas e jesuíticas do Paraguai ao longo
dos séculos XVII e XVIII. No Sínodo de Assunção de 1631 determinou-se que o
catecismo de Bolaños seria utilizado como material obrigatório na catequização
e doutrinação dos Guarani. A esse catecismo foram agregados naquele
momento os artigos da fé e a Salve compostos pelo padre Roque González. Mais
tarde, os teólogos jesuítas questionariam, penso eu, com razão, a tradução feita
por Bolaños do Deus Cristão como Tupã, uma das tantas divindades guaranis,
mas a expressão já estava consolidada, e permanece até hoje como a palavra
Guarani que designa Deus.
E com relação às reduções franciscanas, o que tem a nos dizer?
No início das reduções franciscanas tiveram papel destacado os freis Alonso de
San Boaventura e Luis Bolaños, como já dito noutro episódio. Ambos chegaram
a Assunção em 1575 tendo construído mais de 40 igrejas entre os indígenas. Os
dois franciscanos estenderam o seu trabalho até a região do Guairá, tendo
chegado até o rio Tietê, mas acabaram se indispondo com os encomenderos de
Vila Rica do Espírito Santo, de onde foram expulsos, por defenderem os
indígenas que trabalhavam como escravos nas suas minas de ferro.
O número de reduções fundadas pelos franciscanos na Província do Paraguai é
impressionante. Entre 1580 e 1797, eles fundaram 33 povoados de indígenas,
sendo a primeira Altos e a última San Juan Nepomuceno. Quando os jesuítas
fundaram a primeira redução em 1610, eles já tinham fundado 17 delas. As mais
conhecidas são Yagarón e Yuty. Se bem que muitas delas tenham tido vida
breve. Após a expulsão da Companhia de Jesus da América Espanhola, em
1767, os franciscanos fundaram ainda 10 reduções, tendo assumido ainda 6
reduções que haviam sido dos inacianos, após a sua expulsão.
Que diferenças existem entre as reduções jesuíticas e franciscanas?
A primeira diferença é com relação à distância das reduções dos povoados de
espanhóis. As reduções franciscanas estavam localizadas próximas deles, ao
passo que as jesuíticas foram estabelecidas, seguindo a política de
Hernandarias, para fugir da ação dos encomenderos. Inclusive, os espanhóis
eram proibidos de entrar nos povoados jesuíticos. E aí temos a segunda grande
diferença entre os dois modelos reducionais. O franciscano, assim como os
povoados de indígenas não dirigidos por religiosos, no Paraguai, estiveram,
desde o começo, sujeitos à mita e ao serviço pessoal dos indígenas aos
encomenderos, fato que levou a uma rápida diminuição da população desses
povoados devido a seus habitantes serem levados forçadamente para trabalhar
nas propriedades dos colonizadores. No modelo Jesuítico, os indígenas eram
encomendados diretamente ao rei, a quem os missionários pagavam um peso
de imposto por pessoa ao ano. Outra diferença é que as reduções franciscanas
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eram proporcionalmente menores em número de habitantes que as jesuíticas.
As primeiras, por exemplo, possuíam entre 500 e mil pessoas. As jesuíticas
chegavam a ter entre 4 e 6 mil indígenas. Por fim, as construções jesuíticas
foram mais pomposas; as franciscanas, mais sóbrias.
Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo!
Aguyjevete! Obrigado
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