Episódio 04 O inicío da Provincia Jesuítica do Paraguay
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens EPISÓDIO 4 – O início da Província Jesuítica do Paraguai Antonio Dari Ramos Quais foram os grandes desafios enfrentados pelos jesuítas no momento inicial da Província Jesuítica do Paraguai? Vou dividir a resposta a essa pergunta em quatro momentos. No primeiro tratarei sobre a criação da estrutura provincial, no segundo sobre a necessidade de novos missionários, no terceiro sobre as brigas iniciais dos jesuítas e no quarto sobre o trabalho principal dos inacianos na região, o atendimento aos indígenas. Imagino que a Companhia de Jesus de Roma e a Coroa Espanhola tenham entregue pronta a estrutura física para os missionários na Província do Paraguai! Foi assim mesmo? Na verdade, não foi bem assim! É claro que todo movimento de expansão da Companhia de Jesus deveria de ser autorizado tanto pelas autoridades civis quanto eclesiásticas, das quais nem sempre vinha subvenção econômica. A construção da estrutura física da Província dependia do trabalho local de seus membros e da boa articulação deles com as autoridades e também com as pessoas atendidas. Quando os jesuítas chegavam nas cidades espanholas, geralmente recebiam propriedades como doação de benfeitores: casas, terrenos, recursos financeiros, escravos. Mas nem sempre isso era suficiente para a manutenção da ação missionária. No caso da criação da estrutura da Província, ela teve de ser toda construída pelos jesuítas, em Córdoba, na atual Argentina, pois precisavam instalar o Provincialado, o Noviciado, a Faculdade, a Casa de Exercícios Espirituais, a botica, o armazém e o Colégio Convictório. Para isso, a Província teve de adquirir uma série de espaços físicos, chegando, ao final, em 1767, ano da expulsão dos jesuítas, a ter na cidade diversas estâncias, além de um complexo urbano, podendo contar com a ajuda de inúmeros trabalhadores assalariados, mas também de centenas de escravizados afrodescendentes. Ademais, diferente da realidade da Província do Peru, que segundo Diego de Torres, não possuía dificuldades econômicas, a nova província foi instalada em um local de grande pobreza. Por isso, a primeira congregação provincial definiu que os jesuítas não usariam tecidos europeus e sim ‘panos da terra’, que receberiam como alimentação comidas menos elaboradas e que não teriam acesso a vinho que não nas celebrações eucarísticas (por certo isso mudou com o tempo), que os móveis dos aposentos seriam rústicos, enfim, que viveriam de fato a pobreza do lugar, algo impensado no Colégio de Lima. Para piorar, no Paraguai, em 1607, houve uma praga de UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens lagartas que devorou as plantações e vinhas, de modo que os jesuítas viveram por um tempo de doações feitas tanto pelos espanhóis quanto pelos indígenas. E sobre a necessidade de novos missionários? A Província Jesuítica do Paraguai foi estabelecida em 1607 e já em 1608 o Provincial Padre Diego de Torres Bollo pedia ao padre geral mais pessoas a fim cumprir suas ordens de criar diversas residências jesuíticas em várias cidades com um número suficiente de religiosos, entre 4 e 12 em cada local. Ele precisaria de mais de uma centena de pessoas e tinha consigo somente 16 sacerdotes. Quando a Província foi formada, ele contava com apenas 8 religiosos, sinal que um ano depois já havia recebido mais 8 deles. Na época, ele levou consigo para Córdoba o jovem Antonio Ruiz de Montoya para acabar o noviciado, aquele missionário sobre o qual falaremos muito por aqui. Mas boa parte da estrutura física montada em Córdoba tinha a função de formar novos missionários. Você falou em brigas iniciais dos jesuítas. De que mesmo estava falando? Falarei melhor sobre isso noutro momento, mas tenho de dizer que os missionários enfrentaram dois grupos bastante poderosos e agressivos desde o início das missões, os bandeirantes paulistas, que já haviam destruído Vila Rica do Espírito Santo e Cidade Real, e os encomenderos espanhóis. Podemos então passar para o principal trabalho dos jesuítas na Província do Paraguai, a catequização dos indígenas? Pouco antes da criação da Província, os Jesuítas do Peru haviam saído da região do Guairá, atual estado brasileiro do Paraná, e, após a criação da Província, Torres Bollo solicitou ao Padre Geral o retorno para lá, já que, segundo suas estimativas, o Guairá contaria com mais de cem mil indígenas. Na ânua de 1608, ele dirá que, nos arredores da Vila Rica do Espírito Santo, eram mais de 200 mil pessoas. Os jesuítas retornaram ao Guairá e passaram a criar reduções no lugar. Já na Governação de Tucuman, o pouco número de padres não conseguia sair em missão às terras de indígenas, se contentando em realizar trabalhos com os nativos, africanos escravizados e espanhóis nas igrejas já estabelecidas, pois muitos deles estavam envolvidos em manter a estrutura provincial. Sobre a criação da primeira redução há uma controvérsia entre os próprios jesuítas. O padre Montoya afirma que foi Santo Inácio, criada por Marcel Lorenzana, em 1610 ou 1611, mas os padres Bruxel e Rabuske afirmam que foi Loreto, estabelecida em 1610 pelos padres Masseta e Cataldino, próximo à atual cidade de Guaíra, no Paraná. Mas, não vamos entrar nessa celeuma! Sobre o processo de fundação das reduções, conversaremos melhor mais adiante. Mas, como nós ficamos sabendo do que aconteceu naquela época? UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS Faculdade Intercultural Indígena Projeto Campeando as Origens – Série Missões Jesuítico-Guaranis _____________________________________________________________________________________ Contatos do Projeto: Antonio Dari Ramos Telefone (67) 99644-5908 ; E-mail: antonioramos@ufgd.edu.br Canal no Youtube: https://www.youtube.com/@CampeandoasOrigens Os jesuítas possuíam um sistema bastante eficiente de registro das atividades que realizavam, fato que nos permite acessar os detalhes de sua ação. São correspondências pessoais, mas também cartas escritas anualmente e enviadas de cada local da Província ao Provincial e deste a Roma, as chamadas Cartas Ânuas; são crônicas, livros contábeis, atas e muito outros documentos que estão disponíveis para revivermos tão importante experiência. Mas, por enquanto é isso! Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o próximo! Atimã porã! Obrigado!
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