Episódio 04 O inicío da Provincia Jesuítica do Paraguay
UNIVERSIDADE FEDERAL DA
GRANDE DOURADOS
Faculdade Intercultural Indígena
Projeto Campeando as Origens –
Série Missões Jesuítico-Guaranis
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EPISÓDIO 4 – O início da Província Jesuítica do Paraguai
Antonio Dari Ramos
Quais foram os grandes desafios enfrentados pelos jesuítas no momento
inicial da Província Jesuítica do Paraguai?
Vou dividir a resposta a essa pergunta em quatro momentos. No primeiro tratarei
sobre a criação da estrutura provincial, no segundo sobre a necessidade de
novos missionários, no terceiro sobre as brigas iniciais dos jesuítas e no quarto
sobre o trabalho principal dos inacianos na região, o atendimento aos indígenas.
Imagino que a Companhia de Jesus de Roma e a Coroa Espanhola tenham
entregue pronta a estrutura física para os missionários na Província do
Paraguai! Foi assim mesmo?
Na verdade, não foi bem assim! É claro que todo movimento de expansão da
Companhia de Jesus deveria de ser autorizado tanto pelas autoridades civis
quanto eclesiásticas, das quais nem sempre vinha subvenção econômica. A
construção da estrutura física da Província dependia do trabalho local de seus
membros e da boa articulação deles com as autoridades e também com as
pessoas atendidas. Quando os jesuítas chegavam nas cidades espanholas,
geralmente recebiam propriedades como doação de benfeitores: casas,
terrenos, recursos financeiros, escravos. Mas nem sempre isso era suficiente
para a manutenção da ação missionária. No caso da criação da estrutura da
Província, ela teve de ser toda construída pelos jesuítas, em Córdoba, na atual
Argentina, pois precisavam instalar o Provincialado, o Noviciado, a Faculdade, a
Casa de Exercícios Espirituais, a botica, o armazém e o Colégio Convictório.
Para isso, a Província teve de adquirir uma série de espaços físicos, chegando,
ao final, em 1767, ano da expulsão dos jesuítas, a ter na cidade diversas
estâncias, além de um complexo urbano, podendo contar com a ajuda de
inúmeros trabalhadores assalariados, mas também de centenas de escravizados
afrodescendentes. Ademais, diferente da realidade da Província do Peru, que
segundo Diego de Torres, não possuía dificuldades econômicas, a nova
província foi instalada em um local de grande pobreza. Por isso, a primeira
congregação provincial definiu que os jesuítas não usariam tecidos europeus e
sim ‘panos da terra’, que receberiam como alimentação comidas menos
elaboradas e que não teriam acesso a vinho que não nas celebrações
eucarísticas (por certo isso mudou com o tempo), que os móveis dos aposentos
seriam rústicos, enfim, que viveriam de fato a pobreza do lugar, algo impensado
no Colégio de Lima. Para piorar, no Paraguai, em 1607, houve uma praga de
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lagartas que devorou as plantações e vinhas, de modo que os jesuítas viveram
por um tempo de doações feitas tanto pelos espanhóis quanto pelos indígenas.
E sobre a necessidade de novos missionários?
A Província Jesuítica do Paraguai foi estabelecida em 1607 e já em 1608 o
Provincial Padre Diego de Torres Bollo pedia ao padre geral mais pessoas a fim
cumprir suas ordens de criar diversas residências jesuíticas em várias cidades
com um número suficiente de religiosos, entre 4 e 12 em cada local. Ele
precisaria de mais de uma centena de pessoas e tinha consigo somente 16
sacerdotes. Quando a Província foi formada, ele contava com apenas 8
religiosos, sinal que um ano depois já havia recebido mais 8 deles. Na época,
ele levou consigo para Córdoba o jovem Antonio Ruiz de Montoya para acabar
o noviciado, aquele missionário sobre o qual falaremos muito por aqui. Mas boa
parte da estrutura física montada em Córdoba tinha a função de formar novos
missionários.
Você falou em brigas iniciais dos jesuítas. De que mesmo estava falando?
Falarei melhor sobre isso noutro momento, mas tenho de dizer que os
missionários enfrentaram dois grupos bastante poderosos e agressivos desde o
início das missões, os bandeirantes paulistas, que já haviam destruído Vila Rica
do Espírito Santo e Cidade Real, e os encomenderos espanhóis.
Podemos então passar para o principal trabalho dos jesuítas na Província
do Paraguai, a catequização dos indígenas?
Pouco antes da criação da Província, os Jesuítas do Peru haviam saído da
região do Guairá, atual estado brasileiro do Paraná, e, após a criação da
Província, Torres Bollo solicitou ao Padre Geral o retorno para lá, já que,
segundo suas estimativas, o Guairá contaria com mais de cem mil indígenas. Na
ânua de 1608, ele dirá que, nos arredores da Vila Rica do Espírito Santo, eram
mais de 200 mil pessoas. Os jesuítas retornaram ao Guairá e passaram a criar
reduções no lugar. Já na Governação de Tucuman, o pouco número de padres
não conseguia sair em missão às terras de indígenas, se contentando em
realizar trabalhos com os nativos, africanos escravizados e espanhóis nas
igrejas já estabelecidas, pois muitos deles estavam envolvidos em manter a
estrutura provincial.
Sobre a criação da primeira redução há uma controvérsia entre os próprios
jesuítas. O padre Montoya afirma que foi Santo Inácio, criada por Marcel
Lorenzana, em 1610 ou 1611, mas os padres Bruxel e Rabuske afirmam que foi
Loreto, estabelecida em 1610 pelos padres Masseta e Cataldino, próximo à atual
cidade de Guaíra, no Paraná. Mas, não vamos entrar nessa celeuma! Sobre o
processo de fundação das reduções, conversaremos melhor mais adiante.
Mas, como nós ficamos sabendo do que aconteceu naquela época?
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Os jesuítas possuíam um sistema bastante eficiente de registro das atividades
que realizavam, fato que nos permite acessar os detalhes de sua ação. São
correspondências pessoais, mas também cartas escritas anualmente e enviadas
de cada local da Província ao Provincial e deste a Roma, as chamadas Cartas
Ânuas; são crônicas, livros contábeis, atas e muito outros documentos que estão
disponíveis para revivermos tão importante experiência. Mas, por enquanto é
isso! Espero que tenhas gostado do assunto tratado nesse episódio. Até o
próximo! Atimã porã! Obrigado!
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